Osesp encerra temporada com espetáculo especial

O Estado de S. Paulo - São Paulo - Quinta-feira, 9 de dezembro de 2004

qui, 09/12/2004 - 9h16 | Do Portal do Governo

Uma das mais belas peças da fase inicial da carreira de Schoenberg integra o programa da orquestra

Lauro Machado Coelho
Especial para o Estado

A mais antiga peça coral-instrumental brasileira que se conhece, um concerto escrito pelo violonista Sérgio Assad, e uma das mais belas peças da fase inicial da carreira de Arnold Schoenberg – esse é o programa da apresentação da Orquestra Estadual, hoje e domingo, na Sala São Paulo, sob a regência do maestro John Neschling.

Entre os papéis do chamado Códice de Mogi das Cruzes, foi encontrada, em 1984, uma das partes de rabeca de uma Ladainha de Nossa Senhora. A localização posterior de outros manuscritos permitiu ao musicólogo Régis Duprat reconstituir a peça e atribuí-la a Faustino Xavier do Prado, que nasceu na Vila de Sant’Anna das Cruzes de Moji em 1708 e trabalhou como assistente de André da Silva Gomes, na Catedral da Sé de São Paulo, até sua morte em 1800. Esse responsório, raro exemplo do ‘estilo antigo’ de música sacra, importado de Portugal, será executado pelo Coral da Osesp, regido por Naomi Munakata.

O concerto tríplice Originis, de Sérgio Assad, para violino e dois violões, foi inspirado pela colaboração do Duo Assad com a violinista italiana Nadja Salerno-Sonnenberg – aluna de Dorothy DeLay, que se tornou conhecida, em 1981, ao ganhar o Concurso Internacional Walter Naumburg. Estreado em janeiro de 2003, o concerto tem cinco movimentos que buscam refletir as origens – donde o título – de seus executantes: as italianas de Nadja na tarantella bitemática e na siciliana dos dois primeiros movimentos; as brasileiras dos irmãos Assad nos dois seguintes, mistura de baião e choro carioca, modinha imperial oitocentista. Finalmente, no último, os temas são retrabalhados de forma mais contemporânea. O Duo Assad possui estreita ligação com a Osesp, tendo, inclusive, excursionado com ela para os Estados Unidos.

Dentre as obras inspiradas pelo Pelléas et Mélisande de Maurice Maeterlinck – a ópera de Debussy, as suítes de Fauré e Sibelius – uma das mais imponentes é o poema-sinfônico de Schoenberg, estreado em Viena – sem sucesso – em janeiro de 1905. Profundamente impregnada da influência wagneriana, essa peça de grandes dimensões, com quase uma hora de música contínua, anterior à adesão do autor ao atonalismo e à música dodecafônica e serial, é uma tradução emocionada da história de amor e morte narrada por Maeterlinck em sua peça – na qual, de resto, é muito forte a marca da matriz narrativa do Tristão e Isolda wagneriano. É uma peça, salvo engano, inédita em nossas salas de concerto e, trazê-la, dá sentido todo especial a esse concerto de fim de temporada da Orquestra Estadual.

Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo e Coro da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Sala São Paulo. Praça Júlio Prestes, s/n. Telefone 3337-5414. Hoje, 21h; dom., às 17h. R$ 22 a R$ 70