Osesp encerra primeira turnê pela Europa

O Estado de S. Paulo - Quinta-feira, 6 de novembro de 2003

qui, 06/11/2003 - 9h40 | Do Portal do Governo

Último concerto foi terça, em Saint Gallen, e direção diz que viagem já rendeu novos convites

JAMIL CHADE, correspondente

GENEBRA – A primeira turnê européia da história da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) terminou na terça-feira. E músicos, patrocinadores e diretores já garantem: a passagem pelo Velho Continente foi marcada por bom público e sucesso de crítica que garantiu novos convites para que a orquestra se apresente nas principais capitais européias nos próximos anos.

Em menos de duas semanas, os músicos comandados pelo maestro John Neschling apresentaram-se na Alemanha (Nuremberg e Augsburgo) e na Suíça (Basiléia, Genebra, Zurique, Berna e Saint Gallen). Na Basiléia, na sexta-feira, o auditório estava com pelo menos 80% de seus lugares preenchidos. E no sábado, o concerto em Genebra acabou se tornando um dos pontos altos da turnê. Apesar de ser completamente desconhecida do público europeu, a orquestra praticamente lotou o principal teatro da cidade suíça.

“Estou surpresa. Vim esperando ouvir música tradicional brasileira e acabei ouvindo um Bartók de alta qualidade”, afirmou uma suíça de 62 anos que estava no concerto de Genebra apenas porque já havia comprado a assinatura anual para todos os eventos naquele teatro. “Por que não vieram se apresentar na Europa antes?”, perguntou outro suíço.

Nos cinco concertos na Suíça, a Osesp apresentou um programa em que tentou equilibrar peças brasileiras com o mais tradicional da música clássica européia, como o Mandarim Maravilhoso de Béla Bartók, e a Festa Romana de Ottorino Respighi, interpretação ovacionada pelo público de Genebra. O programa também incluiu o Segundo
Concerto para Piano de Heitor Villa-Lobos, peça pouco conhecida na Europa e que tem como solista o carioca
Jean Louis Steuerman.

Mas o grande destaque em praticamente todas as apresentações é o baião de Guerra Peixe que entusiasma o público local. “Uma das grandes características do Brasil é a de conseguir ter uma fronteira fluida entre a música popular e a clássica. Não estamos aqui para aprender mas, sim, para tocar”, disse Neschling.

A Osesp parece ter contagiado também a crítica alemã. Um jornal de Nuremberg afirmou que a orquestra é de “nível internacional” e destacou a interpretação dada pelos músicos à Sinfonia n.º 1, do compositor alemão Johannes
Brahms. “Não é todos os dias que uma orquestra estrangeira chega à Alemanha para tocar Brahms. Tem de ter coragem”, afirmou um músico da Osesp.

Por enquanto, o cachê pago aos músicos brasileiros pelos patrocinadores europeus ainda é 30% do que recebeu uma orquestra americana em uma turnê internacional. Mas diante da boa performance do grupo, Neschling garante que, para 2007, 15 concertos em pelo menos quatro países europeus já estão praticamente fechados, entre eles Viena e Paris.

Para 2004, o projeto da Osesp também inclui apresentações em locais nunca antes explorados: Norte e Nordeste do Brasil. “Vamos de Manaus a Salvador”, afirmou Claudio Gaiarsa, diretor-executivo da Osesp. Para 2005, será a vez dos Estados Unidos, onde a orquestra passará cinco semanas convidada pela Florida Symphonie Association, que dará um patrocínio de US$ 2 milhões para a estada dos músicos no país. “Estamos dando passos importantes para que o Brasil finalmente tenha uma orquestra de nível internacional”, completou Neschling.