Osesp é vista como milagre em Paris

O Estado de S.Paulo - Quinta-feira, 29 de março de 2007

qui, 29/03/2007 - 11h34 | Do Portal do Governo

De o Estado de S.Paulo

Na primeira página do jornal Le Monde, em meio aos títulos dedicados às eleições presidenciais francesas, figura o seguinte: ‘Os parisienses vão descobrir, na quinta-feira (hoje), a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, a mais prestigiosa orquestra brasileira.’ E no subtítulo: ‘Como uma formação medíocre se tornou, em dez anos, graças ao trabalho do maestro John Neschling, um grupo excepcional.’ Em página interna, um título ainda mais bombástico: ‘Um milagre musical proveniente de São Paulo’ abre um longo artigo assinado por Renaud Machart. Primeiro espanto do jornalista francês, o local. ‘Uma sala de concerto montada numa estação de trem, uma das mais incríveis instalações arquitetônicas dedicadas a um auditório de música clássica: no hall, um vidro grosso separa os melômanos dos viajantes reais que tomarão trens de verdade.’ Machart devaneia: Villa-Lobos, diz ele, teria amado ouvir ali o seu famoso O Trenzinho do Caipira.

Há 11 anos, quando o maestro brasileiro John Neschling (sobrinho-neto de Arnold Schoenberg) foi chamado para seu país natal para assumir a principal orquestra, esta era de uma mediocridade extrema. Ele então ‘sacudiu’ violentamente os músicos, impondo-lhes uma audição de controle. Alguns se recusaram, por achar humilhante. Outros aceitaram, e os que foram mantidos ‘passaram a receber salários muito mais altos’.

Dos músicos antigos, 42 foram substituídos. Depois, foram programadas audições na América Latina, em Nova York, no Leste Europeu. ‘Em nossos primeiros concertos’, diz John Neschling, ‘havia 65 músicos para 80 pessoas no público. Em 1999, já tínhamos 1.800 assinantes. Agora são 11 mil. A Osesp tem hoje 110 músicos, um coro de 70 profissionais e um coro infantil. Um contrato foi assinado com a gravadora sueca BIS para a orquestra registrar peças brasileiras raras (Mozart Camargo Guarnieri ou Francisco Mignone), sem falar de Villa-Lobos ou de músicos europeus.

O artigo do Le Monde descreve essa ‘colméia’ que zumbe músicas. Vêem-se músicos jovens em todos os cantos do edifício, uma butique para o público. E, em construção, uma galeria de arte contemporânea. Neschling, muito loquaz, fala do futuro: ‘Hoje, podemos recrutar bons músicos do mundo inteiro, porque os salários são bem mais altos que os das outras 69 orquestras do País.’ Mas, para isso, foi preciso trabalho duro. A Osesp ensaia todos os dias úteis.’ E acrescenta: ‘E eu sou intratável. Após três atrasos ou ausências injustificadas, é rua!’

É esse o ‘pequeno milagre’ que a França vai descobrir na hoje no Théâtre du Châtelet, com obras de Guarnieri, Rachmaninov e Tchaikovsky, e Nelson Freire ao piano. Depois, a Osesp permanecerá alguns dias em Paris realizando audições para recrutar novos músicos.

   

 

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