Folha de S. Paulo
Lançamentos em disco de concertos ao vivo podem, não raro, surpreender quem esteve na apresentação em que eles foram gravados. Assim como há exemplos em que o resultado fonográfico parece empobrecer a experiência de uma grande apresentação, também acontece de espetáculos marcados pelo tédio adquirirem nova vida depois da mediação dos equipamentos de estúdio.
Com o concerto que reuniu, na Sala São Paulo, em dezembro de 2006, a cantora Mônica Salmaso, ao lado da Osesp e da Banda Mantiqueira em seu terceiro encontro com intérpretes, vale a última alternativa. Naquela ocasião, a amplificação da voz da solista parecia algo insuficiente, e ela, por vezes, mostrava se ver engolfada pela maré sonora que vinha da junção entre orquestra e banda.
Além disso, nem todos os arranjadores conseguiram resolver a contento os problemas do difícil equilíbrio entre uma sinfônica e uma big band. E a própria duração do espetáculo, entremeada com muito falatório, acabou sendo excessiva.
No disco com repertório formado por canções de compositores da MPB, contudo, mexeu-se na ordem das músicas; algumas acabaram ficando de fora, bem como toda a conversa fiada da apresentação; e a voz de Salmaso pôde, enfim, ser ouvida em toda sua riqueza e glória, por cima de uma combinação afinada e harmoniosa de cordas, sopros e percussão, dirigida por John Neschling.
É essa voz, uma das mais belas que já se dedicaram à música popular brasileira, a maior justificativa para a aquisição do álbum. Com os anos, o timbre grave de Salmaso parece vir ganhando em corpo e calor, o que faz da audição de “Beatriz”, de Edu Lobo e Chico Buarque, um daqueles prazeres que a gente não se cansa de renovar.
Claro que sempre haverá quem extraia prazer da densa releitura que Alexandre Mihanovic faz de “Beijo Partido”, de Toninho Horta; ou da descritiva “batalha musical” entre temas norte-americanos e brasileiros (no estilo da “Abertura 1812”, de Tchaikovski) que Roberto Sion encena em “Chiclete Com Banana”, de Almira Castilho e Gordurinha.
Mas bom mesmo é ouvir uma cantora que, além de se desincumbir com aparente facilidade e sem queda na afinação dos complicados intervalos de “Beatriz”, ainda tem inteligência para mostrar um lirismo despido de exageros e derramamentos em “Eu Te Amo”, de Tom Jobim e Chico Buarque, emoldurada por sofisticado arranjo de André Mehmari.
O disco vale por Salmaso, e, se você é da turma que não curte a cantora, o melhor é nem pensar em ouvi-lo.
OSESP, BANDA MANTIQUEIRA E MÔNICA SALMASO
Gravadora: Biscoito Clássico
Quanto: R$ 27, em média
Avaliação: bom