Osesp cria bom álbum com convidados

Folha de S. Paulo – sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

sex, 18/01/2008 - 19h27 | Do Portal do Governo

Folha de S. Paulo

Lançamentos em disco de concertos ao vivo podem, não raro, surpreender quem esteve na apresentação em que eles foram gravados. Assim como há exemplos em que o resultado fonográfico parece empobrecer a experiência de uma grande apresentação, também acontece de espetáculos marcados pelo tédio adquirirem nova vida depois da mediação dos equipamentos de estúdio.

Com o concerto que reuniu, na Sala São Paulo, em dezembro de 2006, a cantora Mônica Salmaso, ao lado da Osesp e da Banda Mantiqueira em seu terceiro encontro com intérpretes, vale a última alternativa. Naquela ocasião, a amplificação da voz da solista parecia algo insuficiente, e ela, por vezes, mostrava se ver engolfada pela maré sonora que vinha da junção entre orquestra e banda.

Além disso, nem todos os arranjadores conseguiram resolver a contento os problemas do difícil equilíbrio entre uma sinfônica e uma big band. E a própria duração do espetáculo, entremeada com muito falatório, acabou sendo excessiva.

No disco com repertório formado por canções de compositores da MPB, contudo, mexeu-se na ordem das músicas; algumas acabaram ficando de fora, bem como toda a conversa fiada da apresentação; e a voz de Salmaso pôde, enfim, ser ouvida em toda sua riqueza e glória, por cima de uma combinação afinada e harmoniosa de cordas, sopros e percussão, dirigida por John Neschling.

É essa voz, uma das mais belas que já se dedicaram à música popular brasileira, a maior justificativa para a aquisição do álbum. Com os anos, o timbre grave de Salmaso parece vir ganhando em corpo e calor, o que faz da audição de “Beatriz”, de Edu Lobo e Chico Buarque, um daqueles prazeres que a gente não se cansa de renovar.

Claro que sempre haverá quem extraia prazer da densa releitura que Alexandre Mihanovic faz de “Beijo Partido”, de Toninho Horta; ou da descritiva “batalha musical” entre temas norte-americanos e brasileiros (no estilo da “Abertura 1812”, de Tchaikovski) que Roberto Sion encena em “Chiclete Com Banana”, de Almira Castilho e Gordurinha.

Mas bom mesmo é ouvir uma cantora que, além de se desincumbir com aparente facilidade e sem queda na afinação dos complicados intervalos de “Beatriz”, ainda tem inteligência para mostrar um lirismo despido de exageros e derramamentos em “Eu Te Amo”, de Tom Jobim e Chico Buarque, emoldurada por sofisticado arranjo de André Mehmari.

O disco vale por Salmaso, e, se você é da turma que não curte a cantora, o melhor é nem pensar em ouvi-lo.

OSESP, BANDA MANTIQUEIRA E MÔNICA SALMASO

Gravadora: Biscoito Clássico

Quanto: R$ 27, em média

Avaliação: bom