Os mágicos dos museus hi-tech

O Estado de S.Paulo - Segunda-feira, 13 de outubro de 2008

seg, 13/10/2008 - 8h34 | Do Portal do Governo

O Estado de S.Paulo

Você sabe o que o recém inaugurado Museu do Futebol, no Estádio do Pacaembu, tem em comum com o seu irmão mais velho e famoso, o Museu da Língua Portuguesa, na Estação da Luz?

Além de revitalizarem dois patrimônios históricos da capital paulista, ambos usam a alta tecnologia e a interatividade como forma de seduzir o público, principalmente os jovens e as crianças – mas não só eles.

A tática, que vem dando muito certo no Museu da Língua Portuguesa – o mais concorrido do Brasil, com cerca de 50 mil visitantes mensais –, tem tudo para repetir o sucesso agora no Pacaembu.

Os dois museus também contaram com o suporte técnico da dupla ao lado, sócios na empresa KJPL Arbyte. O sueco, radicado no Brasil desde os dois anos, Peter Lindquist, e o brasileiro Nicola Bernardo são os responsáveis pelos bastidores tecnológicos das duas atrações.

A dupla marcou presença também nas bem-sucedidas exposições Bossa na Oca, no Ibirapuera, e Pelé Station, em Berlim, e no Museu da Bovespa, no Centro.

“Nosso trabalho parte da concepção dos criadores dos espaços”, conta Nicola. “Nós traduzimos os conceitos idealizados por eles e identificamos os equipamentos e softwares que precisarão ser empregados para criar os efeitos desejados”, explica.

O processo de criação de uma das salas mais belas do novo museu, a dos Anjos Barrocos, ilustra bem o método de trabalho da dupla, que costuma estar envolvida nos projetos desde o início. Na referida sala, 25 dos maiores craques brasileiros aparecem, em imagens icônicas, projetados em telas suspensas no ar, como se flutuassem.

“Em uma das primeiras reuniões, a Daniela Thomas (cenógrafa, responsável pela museografia do local com o arquiteto Felipe Tassara) falou sobre essa sala”, lembra Peter. “Ela queria que os jogadores, ao mesmo tempo que fossem projetados em telas, também refletissem pelas paredes, pelo teto e o chão do espaço, dando um efeito de multiplicação contínua das imagens”, conta. “Em um primeiro momento não tínhamos idéia de como conseguir esse efeito”, conta Nicola.

O problema se resolveu durante uma viagem aos Estados Unidos no começo do ano passado. Em uma feira de tecnologia, eles descobriram uma tela holográfica e reflexiva produzida na Espanha, que dava perfeitamente o efeito imaginado por Daniela. “Menos um problema”, sorri Nicola. Onze dessas telas foram importadas.

Além dos Anjos Barrocos, o local está recheado de outras atrações hi-tech, que vão de cinema 3D e campinho virtual a chute a gol, com direito a sensores de velocidade. Isso sem contar os 150 monitores e 50 projetores que exibem cerca de seis horas de filmagens de forma ininterrupta. Tudo controlado por 120 computadores e 8 mil metros de cabos.

A dupla garante ainda que não funciona como freio da criatividade dos idealizadores. “A imaginação do artista não deve ter limites para criar”, diz Peter. Mesmo assim, e apesar da experiência, nem sempre é possível atender aos pedidos.

No Museu do Futebol, os criadores queriam que Pelé, escolhido para dar as boas-vindas aos visitantes, voasse pelo local, saudando o público. “Isso só nos filmes de ficção científica”, brinca Peter, que considera esse o mais complexo dos trabalhos do gênero já feitos por ele e Nicola.

Para aqueles que não vêem o lugar como um “museu”, em razão da ausência de relíquias (tem apenas uma camiseta usada por Pelé, durante a final da Copa de 70), uma rápida volta pelo lugar talvez os faça mudar de opinião. Os visitantes contemplam em silêncio as inúmeras “obras de arte” feitas pelos nossos “artistas da bola”.

Apesar do encantamento despertado no público, a dupla confessa que o efeito não é o mesmo para eles. “A gente vê com outros olhos. É como um mágico que conhece o truque”, dizem, quase em uníssono.