Os 40 anos da Fapesp

O Estado de S. Paulo - 27/5/2002

seg, 27/05/2002 - 12h45 | Do Portal do Governo

A última edição da revista Nature publicou o trabalho de 65 pesquisadores brasileiros sobre o seqüenciamento e comparação dos genomas de duas bactérias, a Xanthomonas citri, que causa o cancro cítrico, e a Xantomonas campestri, que ataca vários vegetais. José Fernando Perez, diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) – que financiou 95% dessa pesquisa, um investimento de US$ 5 milhões em dois anos -, considera que com isso se consolidou a posição de liderança da ciência brasileira no estudo de fitopatógenos. A publicação do trabalho em revista científica da importância da Nature, reconhecida mundialmente, também demonstra que o modelo de agência de fomento implementado pela Fapesp – que está comemorando 40 anos de existência este mês – está produzindo bons resultados.

Apesar de toda a publicidade que o Projeto Genoma tem obtido, é preciso lembrar que a Fapesp não investe apenas em pesquisa biotecnológica. O Projeto Genoma absorve apenas 6% do orçamento da fundação. Desde 1994, o foco de atenção principal da fundação são os projetos temáticos, privilegiando-se aqueles que são elaborados e executados em parceria. Essa política objetiva incentivar a integração entre todos os interessados em pesquisa, inclusive o empresáriado. Tais parcerias, ao estimular o contato entre pesquisadores de diferentes universidades e centros de pesquisa, produzem sinergias. É preciso também lembrar que a Fapesp exerceu papel pioneiro na instalação da internet no Brasil, instrumento que deu impulso e agilidade à integração dos esforços em pesquisa.

Em 1998, o modelo de pesquisa integrada propiciou a formação de 18 Programas Especiais, com diferentes projetos temáticos, sendo um deles o Projeto Genoma. Outro desses programas foi o Pite, Parceria para Inovação Tecnológica, que visa a estimular a pesquisa integrada da universidade com a empresa. Esse programa gerou 58 projetos de pesquisa que receberam, em 2001, financiamento de R$ 202 milhões. O Pipe, o Programa de Inovação em Pequenas Empresas, outro programa especial, aprovou, apenas em 2001, 185 projetos para parceria de pesquisadores universitários com empresas de até 100 empregados.

Mas o papel essencial da Fapesp, desde sua criação, tem sido a preocupação constante com os pesquisadores do futuro. O Programa Apoio à Educação, destinado a financiar pesquisas sobre problemas do ensino básico e médio, já tem mais de 70 projetos em andamento, promovendo a integração de pesquisadores universitários e professores do ensino público, básico e médio. O Pró-Ciência, um programa de formação de professores de Matemática e Ciências – sem os quais não pode haver desenvolvimento científico -, funciona em várias regiões educacionais do Estado. O projeto Jovens Pesquisadores em Centros Emergentes complementa essa preocupação com o futuro, oferecendo a quem completou o doutorado condições para abrir núcleos de pesquisa em parceria com diversas instituições, principalmente órgãos públicos. Em 2001, a fundação investiu R$ 15,5 milhões nesse projeto.

A política da Fapesp, portanto, não privilegia apenas a pesquisa de ponta, na fronteira do conhecimento, como é o caso do Projeto Genoma. A diversidade de investimentos é a garantia da eficiência e da continuidade do modelo.

Essa característica da agência de fomento paulista, de investir no topo e na base da pirâmide do conhecimento, é um exemplo a ser seguido por outras instituições, no momento em que se discute a implantação de uma nova política de ciência e tecnologia para o País.

Editorial