Os 20 anos do HC

Correio Popular - Sexta-feira, 28 de outubro de 2005

sex, 28/10/2005 - 16h24 | Do Portal do Governo

Luiz Carlos Zeferino

Encerramos o mês provando que, há 20 anos, os visionários da Unicamp estavam certos. Uma bem sintonizada visão de futuro se concretizava com a abertura da primeira enfermaria do Hospital de Clínicas da Unicamp e o primeiro paciente internado. Ter como missão encontrar caminhos para o ensino, a pesquisa e a assistência em um grande hospital de ensino foi uma ousadia. Começou a ser concretizada no final dos anos 60, dentro da Faculdade de Ciências Médicas e da Santa Casa de Misericórdia de Campinas, modesta e de construção muito antiga, mas o útero e a incubadora de toda a Área da Saúde da Unicamp.

Naquela época, reconhecia-se que a medicina passava por mudanças estruturais e tecnológicas, e que a Unicamp oferecia um potencial para encarar esses desafios. Um papel estratégico para a universidade, que através de seu fundador, Zeferino Vaz, caracterizado pela audácia e determinação, viu na Faculdade de Ciências Médicas o marco inicial de serviços de excelência que seriam oferecidos à população.

Facílimo de falar e dificílimo de fazer, diziam alguns pioneiros da fase embrionária da Unicamp, sobre o tamanho do hospital proposto. De fato, algumas dificuldades apontadas por alguns dos pioneiros na medicina da Unicamp foram superadas. Hoje, pergunto como deveria ser um Hospital das Clínicas de uma grande Faculdade de Ciências Médicas inserida numa grande universidade?

Independentemente das dúvidas do passado, o hospital se baseou na excelência, prestando assistência complexa e hierarquizada no sistema de saúde, formando e qualificando recursos humanos e produzindo conhecimento. É claro que é um processo. Crescentemente, haverá uma busca de focalização de novas metas para atingir novos objetivos, sem esquecer da humanização.

De qualquer forma, não foi por acaso que o HC da Unicamp sai do projeto para se tornar um dos mais conceituados hospitais públicos de alta complexidade do País. Bem sucedido, o HC da Unicamp, com 403 leitos, é um dos maiores hospitais do Estado, que atende cerca de 530 mil pacientes por ano. Com ele, veio para a Unicamp outras unidades complementares, que são o Caism, Hemocentro, Gastrocentro e Cipol.

Consagrado pela assistência de qualidade, o HC continua inovando em sua performance. Números como os seis milhões de pessoas atendidas de centenas de cidades do interior paulista e de estados vizinhos, impressionam. Diariamente, cerca de 10.000 pessoas circulam pelo hospital e, por ano realiza um milhão e meio de exames laboratoriais e 120.000 exames de imagem.

Atualmente, cerca de mil alunos de medicina, enfermagem, fonoaudiologia e farmácia realizam boa parte do treinamento e internato dentro do hospital. Além disso, participam da rotina do HC cerca de 500 pós-graduandos. É na Unicamp que está o terceiro maior número de residentes do País.

A medicina que se pratica hoje é muito diferente daquela que se praticava há 30 anos, pois, apesar deste intervalo ser pequeno no tempo, ele é grande do ponto de vista tecnológico. Em saúde, a incorporação de novas tecnologias eleva o custo global. Este é um fenômeno universal e atinge serviços públicos e privados. A conseqüência é a necessidade contínua de incorporação de novas tecnologias, não apenas na forma de equipamentos, mas também através do desenvolvimento e assimilação de novas técnicas cirúrgicas, esquemas diagnósticos e terapêuticos.

É preciso reconhecer que o prestígio de uma instituição como o HC é, nacionalmente, derivado diretamente da sua contribuição para o avanço da ciência. A qualidade do ensino vem como conseqüência, primordialmente, porque as universidades mais prestigiadas atraem os melhores alunos. Em 20 anos, nós quintuplicamos o número de alunos aperfeiçoados no HC. Figuramos entre os hospitais que mais contribuem para a produção de artigos científicos no país.

Mas hoje são necessários recursos financeiros adicionais para manter e expandir as atividades, o que vem sendo o desafio atual não só para o HC mas para inúmeros hospitais universitários Brasil afora. Os financiadores são a universidade e o SUS, totalizando, em 2005, cerca de R$ 170 milhões. Apesar de expressivo, este montante, que anteriormente financiava o HC, atualmente é insuficiente. É o custo crescente destas unidades de alta complexidade, o que demanda eficiência na gestão. Para seguir na trajetória de hospital terciário e quaternário, o HC precisaria dispor de pelo menos 80 leitos de UTI e adequar sua infra-estrutura, o que se pretende atingir até o final de 2006 com financiamento adicional do SUS.

O investimento em tecnologia, pesquisa e ensino credenciaram o HC na linha de frente dos melhores, tendo realizado 300 mil cirurgias e, atualmente, é responsável por mais de 80% dos procedimentos de alta complexidade na Região de Campinas. Assim, somente no último ano, o complexo de saúde da Unicamp admitiu, para tratamento, mais de 6.000 novos pacientes com câncer. Desde o início do HC, já foram feitos mais de 3.300 transplantes de fígado, de rim, pâncreas, coração, medula óssea e córneas.

Há muito que se comemorar pelo que o HC tem oferecido à sociedade que o financia e, portanto, a quem de fato ele pertence. Olhando para o futuro, o HC é dependente da atuação de sua comunidade interna. Voltando-se para o passado, nós, professores, alunos, funcionários e a clientela, agradecemos àqueles que acreditaram e atuaram para viabilizar o projeto que deu origem ao HC e ao complexo assistencial da Área da Saúde da Unicamp.

Tenho certeza de que ainda temos, também, muito a realizar. Mas, modestamente, podemos contabilizar, nesses 20 anos, avanços importantes que nos animam a poder enfrentar a próxima década com desafios ainda maiores.

Luiz Carlos Zeferino é superintendente do HC da Unicamp