Oesp recupera autor esquecido

O Estado de S. Paulo - Sexta-feira, dia 07 de abril de 2006

sex, 07/04/2006 - 16h39 | Do Portal do Governo

O pianista Fábio Martino, de 17 anos, é solista das apresentações de hoje e amanhã, com obra pouco conhecida de Medtner João Luiz Sampaio

Encerrando a primeira fase pianística da temporada da Osesp – após séries de concertos com Ilan Rechtmann e Arnaldo Cohen como solistas –, o jovem Fábio Martino sobe hoje e amanhã ao palco da Sala São Paulo para interpretar o Concerto nº 2 de Nicolai Medtner. A regência será do suíço Sylvain Gasançon, vencedor da segunda edição do Prêmio Internacional Eduardo Mata, que, na segunda parte, interpreta a Oitava Sinfonia de Dvorak.

A obra de Medtner ainda é pouco conhecida. Mas ele é uma figura interessante da passagem do século 19 para o 20. Nascido na Rússia, estudou piano. Como solista, recebeu prêmios, mas um de seus professores o estimulou a aceitar a composição como atividade paralela. Ele saiu algumas vezes em turnê pela Europa, mas sempre retornou à Rússia. Foi apenas nos anos 20, após a revolução bolchevique, que deixou o país, em direção primeiro à Alemanha e, mais tarde, a Paris. Nos anos 20, a capital francesa reunia uma série de músicos russos, Stravinski talvez o mais proeminente deles. Eram anos de experimentação, de assumir riscos na hora de compor. E a estética bastante ligada ao romantismo de Medtner não agradou muito – ele descreveu sua relação conflituosa com a música moderna no livro The Muse and Fashion, editado pelo amigo e colega compositor e pianista Sergei Rachmaninoff. Ainda assim, exímio pianista, Medtner deixou uma série de obras importantes para o instrumento, entre elas três concertos, as únicas peças escritas para orquestra. Além delas, uma infinidade de obras para piano-solo e uma batelada de canções – algumas delas ele gravou, pouco antes de morrer, em 1950, com a grande soprano alemã Elizabeth Schwarszkopf.

Nos últimos anos, Medtner tem sido redescoberto. Claro, sempre houve músicos que defenderam suas obras – a pianista brasileira Yara Bernette, por exemplo, fez do Concerto nº 2 um de seus cavalos de batalha (há uma gravação disponível na série Grandes Pianistas Brasileiros da Masterclass). Mas há, agora, uma nova geração interessada em sua música. O pianista russo Nicolai Lugansky, por exemplo, que esteve aqui em São Paulo esta semana para recitais no Teatro Cultura Artística, é um dos defensores da obra para piano-solo do compositor, de quem já interpretou por aqui o ciclo de sonatas reunidas sob o nome de Melodias Esquecidas.

Aqui no Brasil, Fábio Martino também diz gostar do trabalho de Medtner. Em uma entrevista ao Estado, disse que se interessa muito pelo desafio imposto pelas alternâncias de passagens líricas e agitadas do Concerto nº 2. Uma questão de temperamento. E isso ele tem de sobra. Aos 17 anos, Martino se define como um músico temperamental – não por acaso elege Cristina Ortiz como um de seus modelos. Aluno da Fundação Magda Tagliaferro, fez sua estréia aos 10 anos, com um recital no MuBE. Com bolsas e prêmios recebidos, já estudou na França, Alemanha. Por aqui, interpretou Beethoven e Shostakovich com a Sinfônica da USP, Mendelssohn com a Sinfonia Cultura. A crítica tem sido unânime ao apontar seu potencial. Há muito caminho pela frente, claro. Mas o prazer está também em acompanhar passo a passo um jovem talento.