Obras de Dubugras serão restauradas

O Estado de S. Paulo - Terça-feira, 12 de abril de 2005

ter, 12/04/2005 - 9h43 | Do Portal do Governo

Conjunto arquitetônico do francês Dubugras está deteriorado e pichado

Moacir Assunção

O governo estadual vai restaurar os monumentos projetados em 1922 pelo arquiteto francês Victor Dubugras no Caminho do Mar, a antiga estrada para Santos. Criado para comemorar o centenário da Independência – d. Pedro I passou por lá antes de chegar às margens do Ipiranga -, o conjunto está deteriorado pelo tempo e pela ação de pichadores.

São seis construções: o Rancho da Maioridade, o Belvedere Circular, o Padrão Quinhentista, o Calçadão do Lorena, o Pouso de Paranapiacaba e o Pontilhão da Serra. A fase inicial do projeto vai custar R$ 1,9 milhão – o valor total deve ficar em R$ 3,28 milhões.

A maior parte dos recursos virá da Petrobrás. A empresa, que tem uma refinaria em Cubatão, perto do Caminho do Mar, contribuiu com R$ 1,2 milhão. A Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa) e a Rhodia repassaram R$ 350 mil cada. A Petrobrás, segundo a Secretaria da Cultura, se comprometeu ainda a completar o que falta, cerca de R$ 1,38 milhão. O dinheiro para a recuperação foi depositado na conta da Fundação Patrimônio da Energia e Saneamento de São Paulo, responsável pela estrada.

De acordo com o secretário-adjunto da Cultura, Edmur Mesquita, a licitação para os serviços de restauração será concluída em algumas semanas e, depois disso, os trabalhos começam. O projeto saiu depois de alguma polêmica. O governo do Estado chegou a ser acusado de descaso com o patrimônio e processado pela promotora de Meio Ambiente de Cubatão, Liliane Garcia Ferreira.

PRAZOS

Até o fim do ano, a secretaria espera entregar um ou dois monumentos totalmente restaurados. Falta somente definir a empresa que tocará o serviço. Quando estiverem em condições de visitação, os monumentos, de acordo com o secretário, terão uma utilização cultural, graças a acordos que serão firmados com as prefeituras da região. ‘Como sou de Santos, tenho uma ligação sentimental e nostálgica com a estrada, assim como o governador Mário Covas, também santista, que determinou o início dos estudos para a restauração’, disse Mesquita. ‘Esperamos ver, em breve, tudo bonito.’ A proposta do governo é transformar o caminho e seus monumentos em um pólo turístico e ambiental.

O conjunto criado por Dubugras sob encomenda do então prefeito e depois presidente Washington Luís tem reconhecida importância arquitetônica. ‘Ele usou muita pedra, o material que mais se preserva na serra, criando uma arquitetura neocolonial que, na verdade, nunca existiu no Brasil’, explica o arquiteto Nestor Goulart Reis, autor de um livro sobre Dubugras (Leia ao lado).

As construções, porém, ganham valor especial pela localização: o Caminho do Mar (SP-148), primeira estrada pavimentada da América Latina, usada por jesuítas, bandeirantes e indígenas. O caminho, em meio à mata atlântica, mantém as pedras do Calçadão do Lorena, por onde passou D. Pedro I para proclamar a Independência.

A primeira rota entre o litoral e o planalto é coberta por pedras, colocadas ali por oficiais do Real Corpo de Engenheiros de Portugal, em 1792. O imperador percorreu o caminho em 1822, de Santos ao Ipiranga.

Há um ano, a estrada está aberta ao público para caminhadas monitoradas, que mesclam interesses ambientais e históricos. Mais informações podem ser obtidas no site www.fphesp.org.br.