Obra resgata o Rodrigues Alves, na Paulista

O Estado de S. Paulo - Sábado, 26 de junho de 2004

seg, 28/06/2004 - 10h04 | Do Portal do Governo

Fachada restaurada da Rodrigues Alves será entregue amanhã, após um ano de trabalho

FABÍOLA GLENIA

Em meio a muitos edifícios, uma construção de apenas dois andares chama a atenção de quem passa pela Avenida Paulista, na esquina com a Rua Teixeira da Silva. A partir de amanhã, a fachada em estilo eclético da Escola Estadual Rodrigues Alves, construída em 1919, terá de volta sua antiga imponência.

Símbolo do período em que começava a ganhar força a instrução escolar estadual, o Grupo Rodrigues Alves surgiu em 1909, em um prédio alugado na esquina da Pamplona. Com o aumento da demanda, veio a necessidade de buscar um espaço maior. O projeto da escola coube ao arquiteto Ramos de Azevedo e a nova sede, instalada em um terreno de quase 3.600 metros quadrados, foi inaugurada no dia 7 de setembro.

Em 1985, o edifício foi tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado (Condephaat).

Posteriormente, a escola passou a sofrer com pichações, depredação de materiais e equipamentos, infiltrações e falta de manutenção. A solução passa pela parceria com o Banco Real, que prevê a restauração completa do colégio até novembro de 2005, com investimentos de R$ 5 milhões.

‘Esse projeto é importante do ponto de vista cultural, por ser um prédio histórico; social, pelo benefício para os alunos; e da revitalização dessa importante avenida’, diz Dilson Motta, superintendente de Eventos e Promoções do Banco Real. O projeto foi idealizado pela empresa especializada FormArte.

Na primeira etapa, houve restauração dos revestimentos e ornamentos da fachada, impermeabilização, cobertura e adequação dos jardins, segundo o arquiteto responsável, Alessandro Pompei, da Concrejato. ‘Tudo está sendo feito de forma a respeitar o projeto original.’

As obras começaram em julho de 2003. Diariamente, 45 funcionários dividiam espaço com 2.600 alunos e 95 professores. ‘Tivemos preocupação com a segurança e em não atrapalhar a rotina. Em alguns casos, foi preciso trabalhar de madrugada’, afirma Pompei. Os alunos foram instruídos sobre os cuidados e os benefícios de preservar o patrimônio. Em um ano, não houve nenhum acidente.

Entre os desafios encontrados na Rodrigues Alves estão os problemas de umidade e infiltração. Para atingir a tonalidade de cor ideal da fachada – amarelo ouro – foi preciso usar uma tinta italiana, que permite que a parede ‘respire’ e não retenha umidade. Pompei ainda explica que no solo foram usados pavimentos intertravados, que facilitam a absorção da água de chuva pelo solo.

A entrega da primeira fase do restauro será amanhã, com a presença do governador, Geraldo Alckmin, do secretário da Educação, Gabriel Chalita, e da secretária de Cultura, Cláudia Costin.

Diretora adia a saída por 10 anos e realiza sonho

Quando a diretora Ivete Mitiko Sunamoto, de 55 anos, foi transferida para a Escola Estadual Rodrigues Alves, seu plano era permanecer no local por quatro anos, tempo que restava para requerer a aposentadoria. Depois de quase 14 anos, segue lá, cuidando com carinho filial dos cerca de 2.600 alunos.

Beneficiada por uma licença-prêmio, com direito a 90 dias de descanso por não ter faltado um único dia no trabalho nos últimos cinco anos, ela continuou indo diariamente à escola, para ver de perto a restauração que, segundo ela, era um sonho antigo. ‘Teoricamente, deveria voltar ao trabalho na segunda-feira’, diz, sorrindo.

‘Era difícil ver a situação do prédio, mas pior era a situação interna, do pessoal.’ A possibilidade de melhoria veio com a chance de estabelecer parcerias. ‘Vi que era possível sonhar. Agora, me sento na muretinha lá da frente e, às vezes choro, outras vezes dou risada. Não consigo acreditar.’

Para ela, as parcerias ajudam a ampliar o potencial que toda escola tem. A Rodrigues Alves conta com outros parceiros que contribuem com material de educação física e artística, com atividades de recreação e com reciclagem para os professores.

Ivete diz ter a sensação de estar encerrando uma fase marcada por muita ansiedade e expectativa, deixando no ar a possibilidade de, finalmente, pedir a aposentadoria. (F.G.)