Obra acadêmica de Oscar Pereira da Silva sob novo olhar

O Estado de São Paulo - Sábado, dia 5 de agosto de 2006

sáb, 05/08/2006 - 11h12 | Do Portal do Governo

Exposição e lançamento do livro reúne 100 pinturas e 250 reproduções

Maria Hirszman

Oscar Pereira da Silva (1865-1939), como boa parte dos pintores acadêmicos brasileiros, vive numa espécie de limbo. Criticados sem serem conhecidos, figuras cujo nome soa familiarmente mas cujas obras raramente são vistas, esses artistas têm seu trabalho preservado, mas sempre de maneira discreta, quase que escondida do público. Pelo menos até agora. Com a inauguração da exposição e lançamento do livro Oscar Pereira da Silva – A Pintura como Missão esta manhã, na Pinacoteca, o último bolsista da Academia Imperial de Belas Artes ganha, com grande atraso, sua primeira revisão de peso.

Com quase 100 pinturas na mostra e umas 250 reproduzidas no livro, esse resgate é fruto de nove anos de pesquisa de Ruth Sprung Tarasantchi, uma das mais dedicadas pesquisadoras do século 19 brasileiro. O projeto de Pereira da Silva nasceu do precioso levantamento feito por ela sobre a pintura paisagística brasileira na virada dos séculos 19 e 20, ao constatar que o pintor carioca, posteriormente radicado em São Paulo, tinha bem mais a oferecer do que paisagens. “É o único de todos eles capaz de pintar todos os gêneros”, afirma a curadora enquanto acompanha a abertura das caixas das obras.

A própria organização física da mostra evidencia a diversidade de Pereira da Silva, com núcleos que contemplam diferentes temáticas como a pintura histórica (o visitante é recebido por uma enorme tela pertencente ao Museu Paulista que representa o desembarque de Pedro Álvares Cabral), os retratos, as alegorias, as paisagens, as cópias, as pinturas de gênero… Estas últimas estão entre os destaques da exposição, por registrarem com grande riqueza de detalhes a vida de São Paulo daquela época. “Ele era um verdadeiro representante da arte burguesa e é isso que nos interessa mostrar aqui”, afirma Ruth.

No detalhismo da composição descobrimos como era organizada uma sala daquela época, alguns hábitos do campo e da cidade; redescobrimos passagens curiosíssimas como uma cena da Rua Vergueiro em 1904: uma estrada lamacenta, por onde são tangidos carros de boi. Pintor rigoroso, Pereira da Silva atendia ao gosto da época. Seguia os preceitos aprendidos na juventude na França. Demonstrava irritação ao ver certas modernidades na pintura da filha Helena, que morava em Paris. No entanto, ele próprio foi tornando-se mais flexível com o passar do tempo, adotando uma paleta mais clara e uma pincelada mais solta. “Sua pintura é sempre correta, via seu trabalho como um ofício”, resume a pesquisadora.

Mesmo havendo na exposição momentos de grande leveza e um certo lirismo, pode-se questionar o estilo rigoroso, a frieza de telas como a que reproduz um cavalo e seu joquéi com uma riqueza impressionante de detalhes (a pedido do proprietário) e a submissão às normas acadêmicas e aos ditames do mercado – ainda bastante insipiente e conservador. Mas desprezar essa obra sem conhecê-la não auxilia em nada à compreensão de nossa história, mesmo que problemática. Dispersa, sua obra não atinge o objetivo de ampliar nosso conhecimento sobre um passado tão recente e tão pouco estudado.

Felizmente, a atenção para esse passado congelado nas paredes dos museus e das coleções privadas tem crescido e temos assistido nos últimos anos uma série de esforços para resgatá-lo, por meio de livros e/ou exposições. Depois de Oscar Pereira da Silva, a Pinacoteca promete outras revisões históricas de autores que ajudou a conservar ao longo do último século: em janeiro será a vez de Almeida Junior (1850-1899), com uma grande retrospectiva organizada por Maria Cecília França Lourenço. E depois a instituição pretende trazer à luz a obra de outro mestre do período, Pedro Weingartner (1853-1929), também sob o olhar de Ruth Tarasantchi.

(SERVIÇO)Oscar Pereira da Silva. Pinacoteca. Praça da Luz, 2, 3229-9844. 3.ª a dom., 10 h às 18 h. R$ 4 (sáb. grátis). Até 24/9. Abertura hoje 11 h