O último bingo da capital foi fechado e houve a apreensão de 2.967 caça-níqueis

O Estado de S.Paulo - Sexta-feira, 15 de junho de 2007

sex, 15/06/2007 - 11h45 | Do Portal do Governo

O Estado de S.Paulo

Em meio à denúncia de envolvimento de dezenas de policiais civis da cidade de São Paulo com a máfia dos caça-níqueis, a Polícia Civil fez ontem a segunda megaoperação do ano no Estado. O arrastão promovido por 18,2 mil policiais cumpriu 1.223 mandados de busca e apreensão, deteve 2.532 pessoas, das quais quase 1.500 permaneceram presas – o suficiente para lotar dois presídios. Eram seqüestradores, assaltantes de banco, golpistas, ladrões de carga e até policiais. Os investigadores fecharam ainda o que consideram o último bingo em funcionamento na capital.

O delegado-geral, Mário Jordão Toledo Leme, passou ontem o dia respondendo a perguntas sobre a operação e negando a relação entre ela e as denúncias. “Começamos o planejamento da Operação Strike no dia 25 de abril. Não se pede mais de mil mandados de prisão da noite para o dia”, disse. De olho na melhora da imagem da polícia, afirmou que a operação não prejudicou o funcionamento normal dos distritos.

Ao lado do secretário de Estado da Segurança Pública, Ronaldo Bretas Marzagão, ele comemorou a prisão de uma quadrilha de detetives particulares responsável pela quebra de sigilos telefônicos e bancários de dezenas de pessoas no Estado. Entre as vítimas estão políticos e até um dos integrantes da cúpula da Polícia Civil. Jordão festejou ainda a prisão de um bando de ladrões de combustível que agia na região de Bauru, no interior de São Paulo, e dos bandidos responsáveis pelo roubo à agência do Itaú no qual a estudante Priscila Aprígio, de 14 anos, ficou paraplégica.

PLANEJAMENTO

Mais uma vez, cada delegacia do Estado planejou sua operação – a prisão de um bandido ou a revista de algum lugar suspeito. O comando da polícia programou tudo para o mesmo dia. “O que não foi possível esperar foi feito antes, como o caso dos combustíveis”, disse Jordão.

Por volta das 5 horas de ontem, policiais dos 645 municípios do Estado começaram a se reunir em delegacias para cumprir as ordens de prisão e de busca e apreensão. Os policiais foram alertados da operação, mas não sabiam o que fazer – o que só foi informado na hora.

Aos poucos, os homens foram para desmanches, pontos-de-venda de droga, galpões com cargas roubadas e casas de procurados pela Justiça. “Fechamos os bingos em todo o Estado. Apenas os de Santos estão funcionando porque ainda têm uma liminar na Justiça”, afirmou o delegado Jordão. O último bingo a ser fechado na cidade de São Paulo foi o da Praça Sílvio Romero, no Tatuapé. “Se alguém estiver funcionando é porque rompeu o lacre em desobediência à interdição”, afirmou o delegado-geral.

Os bingos estão ligados à exploração de caça-níqueis na cidade. Eles começaram a ser interditados em ações da polícia e da Prefeitura depois que a Operação Têmis, da Polícia Federal, descobriu a existência de um esquema na Justiça de venda de liminares que permitiam o funcionamento da jogatina.

CARTÕES

No fim da manhã, policiais da Delegacia Seccional de Osasco, na Grande São Paulo, prenderam aquele que é considerado pela polícia como um dos maiores clonadores de cartões de banco do País: Fernando do Nascimento, o Moranguinho, de 31 anos. Ele morava em um condomínio de luxo em Sorocaba, onde comprou uma casa há dois anos. A polícia chegou a Moranguinho e a seu grupo depois de três meses de investigações. Dois acusados – Jorge Paulo Nascimento e Marcio Reginaldo Sebastião – foram detidos pela manhã, quando saíam do terminal eletrônico de um banco em Sorocaba.

Ali, os bandidos haviam acabado de instalar um equipamento para clonar os cartões bancários de clientes que usassem os caixas. Depois de detê-los, os investigadores rumaram para a casa do líder do bando, onde foi preso Carlos Caiana. “Em seu carro, uma Montana, nós achamos quase mil cartões clonados”, afirmou o delegado Ricardo Guanaes. Pouco depois, foi a vez de Moranguinho chegar. Com ele foram encontrados os demais cartões – ao todo cerca de 1.500 foram apreendidos, além de equipamentos para falsificar os cartões.

INTERIOR

No interior do Estado, os policiais civis detiveram principalmente traficantes de drogas e ladrões. Em Campinas, a polícia prendeu 60 pessoas. Também foram apreendidas mercadorias pirateadas – 22.478 objetos: tênis, CDs e DVDs. Na Baixada Santista, a polícia prendeu 149 pessoas – 72 em flagrante. Os investigadores apreenderam ainda 123 máquinas de caça-níqueis. Na região de Ribeirão Preto, a polícia mandou para a cadeia 178 pessoas e deteve 12 adolescentes. Descobriu também 588 máquinas de caça-níqueis, além de fechar um bingo em Jaboticabal.

No Vale do Paraíba e no litoral norte de São Paulo, os policiais detiveram 187 pessoas. Ali também houve apreensões de caça-níqueis, cerca de 40. “Foi um esforço concentrado em pouco mais de dez horas de trabalho”, afirmou o delegado Godofredo Bittencourt Filho. Dentro da estratégia de tentar acabar com todos os bingos do Estado, os investigadores também fecharam um em Ubatuba (litoral norte). Em todo o Estado, a polícia apreendeu 180 armas, e 1.205 veículos, além de 106 quilos de drogas e 2.967 máquinas de caça-níqueis.

NÚMEROS

645 cidades

tiveram o efetivo policiai civil mobilizado, para garantir o cumprimento de 1.223 mandados de busca e apreensão; os policiais se reuniram nos departamentos por volta das 5 horas, quando receberam as ordens finais sobre a operação1.500 pessoas permaneciam presas à noite: seqüestradores, assaltantes, golpistas e até policiais