O triunfo da OSESP

Veja São Paulo - Domingo, 9 de novembro de 2003

seg, 10/11/2003 - 10h21 | Do Portal do Governo

Sucesso em sete concertos na Alemanha e na Suíça
coroa um belo ano da Sinfônica do Estado

Por Lúcia Monteiro


Ensaio no Victoria Hall, em Genebra, no dia 1º de novembro

Mal haviam soado os últimos acordes de O Mandarim Maravilhoso, de Béla Bartók, domingo passado em Zurique, quando o maestro John Neschling, diretor artístico da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, foi surpreendido por longos e calorosos aplausos. Ele teve de reger dois bis. Dias antes, em Nuremberg, o regente associado Roberto Minczuk voltou ao palco dez vezes antes que o público alemão começasse a ir embora depois de ouvir a Sinfonia Nº 1 em Dó Menor, de Johannes Brahms. Na terça-feira, a orquestra ganhou aplausos de pé em St. Gallen, na Suíça, uma raridade por lá. Esses foram os grandes momentos da turnê da Osesp por sete cidades da Alemanha e da Suíça, encerrada na semana passada. ‘Uma bela combinação de rigor e exotismo’, escreveu o jornal Nürnberger Zeitung. ‘O sucesso foi total’, afirmou o diário Tribune de Genève a respeito da execução da apoteótica Festas Romanas, de Ottorino Respighi.

‘Já esperava uma boa acolhida. Não é falta de modéstia, mas conheço nossa qualidade’, diz Neschling. ‘O que me surpreendeu foi o entusiasmo com que nos aplaudiram.’ Um ano após uma pioneira excursão pelos Estados Unidos, a nova viagem da Osesp envolveu uma logística complicada. Os músicos seguiram em dois vôos diferentes, na classe econômica. Apenas Neschling viajou de executiva. Os instrumentos foram despachados antes, num avião de carga, dentro de caixas protetoras. Entre uma cidade e outra da Europa, dois caminhões climatizados transportaram violinos, violoncelos, flautas, tímpanos, harpa e outros. ‘Usamos um esquema semelhante ao da Fórmula 1’, conta o diretor executivo da Osesp, Claudio Gaiarsa.

‘Tocar se aprende tocando e aceitando desafios como esse’, afirma o crítico e historiador musical Lauro Machado Coelho. ‘Gravar, viajar e renovar o repertório são atributos importantíssimos para qualquer grande orquestra.’ Além dos brasileiros Villa-Lobos e Guerra Peixe, o repertório ousava ao escolher compositores muito tocados nas salas européias, como o húngaro Béla Bartók e o alemão Brahms. ‘É um programa de gente grande, brilhantemente interpretado’, diz João Batista Natali, crítico da Folha de S.Paulo. Apesar de o roteiro não ter incluído os dois maiores centros musicais da Alemanha, Berlim e Munique, os concertos na Europa constituem um degrau importante na ascendente história da Osesp. Seu público anual ultrapassa 120.000 pessoas. O programa de assinaturas, lançado em 2000, saltou de 2.383 para 7.152 subscrições, com a expectativa de que passe para 8.000 no ano que vem, quando haverá dez séries (atualmente são nove). Novas turnês estão marcadas para 2005, 2006 e 2007 na Europa e nos Estados Unidos. Com um salário médio de 5.000 reais, os 105 músicos ensaiam oito horas por dia e fazem dois concertos por semana. Duas vezes por ano há testes para a contratação de novos instrumentistas. Quando nenhum candidato tem o nível desejado, as vagas ficam em aberto. Nos dias 20, 21 e 22, a orquestra reencontra seu público cativo na Sala São Paulo. Com uma atração e tanto: o pianista Nelson Freire, que será solista do Concerto Nº 1 de Shostakovich.