O Tietê prateado: Despoluindo um esgoto a céu aberto

The Economist

sáb, 22/10/2011 - 15h00 | Do Portal do Governo

A transmissão de um programa de rádio brasileiro, em 1990, chamado “O Encontro das águas”, fez uma comparação entre as condições do Rio Tâmisa de Londres e o Tietê de São Paulo. O Tâmisa foi revitalizado, quando Joseph Bazalgette, um engenheiro vitoriano, começou a construir canalizações que demoveram a sujeira ao longo do rio. O Tietê foi asfixiado por resíduos de 33.000 fábricas e esgotos de 13 milhões de pessoas, mais do que quatro quintos deles sem tratamento. O rio estava biologicamente morto desde Barra Bonita, a 260 quilômetros de São Paulo.

A ação ganhou apoio. Jornais e ONGs se juntaram a campanha para limpar o rio. Uma petição atraiu 1,2 milhões de assinaturas. Finalmente, em 1992, O Projeto Tietê foi lançado.

Ao contrário de outros projetos de infraestrutura no Brasil, este continuou em andamento mesmo com a hiperinflação, crises financeiras e a alternância dos chefes de governo. Empréstimos baratos ajudaram os grandes poluidores industriais a se tornarem limpos. Novas estações de tratamento de água foram construídas e redes de esgoto instaladas.

Vinte anos depois, o Tietê continua fedido e imundo ao passar com suas águas turvas por São Paulo. Mas não por muito tempo. Hoje 55% dos esgotos da cidade são tratados; em 2018, 85% deverão ser. O governador do estado, Geraldo Alckmin, está tentando mobilizar 35 municípios da bacia do Tietê para que cooperem: até 2010, Guarulhos, uma cidade satélite de 1,2 milhões de pessoas, não tratou uma gota de seu esgoto.

A poluição de São Paulo agora chega só até Salto, a 100 quilômetros de distância. Em 2018, diz Monica Porto, uma expert em qualidade da água da Universidade de São Paulo, as melhoras serão visíveis – e sentidas através do cheiro – na própria cidade.

A limpeza do Tietê é mais do que um problema habitual. São Paulo está a apenas 75 quilômetros de distância da nascente do rio, por isso há menos água para diluir o que nele se despeja. As serras bloqueiam as potenciais rotas do esgoto até o mar. A média anual de chuva é 150 cm e as tempestades de verão podem trazer 7 cm em apenas algumas horas. Ruas e calçadas impermeáveis agravam as inundações: este ano o rio já transbordou três vezes. A cidade se multiplicou em oito vezes desde 1950, e grande parte da população vive em favelas não planejadas. Algumas delas estão nas margens do rio: companhias de água muitas vezes pedem ao governo para remover pessoas que ocupam ilegalmente a área onde eles precisam trabalhar. E mesmo quando os esgotos são construídos, algumas famílias continuam desconectadas porque não são capazes ou não estão dispostas a pagar.

Mas as áreas virgens próximas à nascente do rio estão sendo transformadas no que oficialmente é considerado o maior “parque linear” do mundo, com 75 quilômetros de extensão, cheio de ciclovias para que ciclistas fiquem de olho em assentamentos ilegais. A Sabesp, uma companhia de água, está limpando 100 afluentes do rio, construindo áreas de recreação e plantando árvores ao longo das margens.

Paulistanos adoravam o rio, diz Janes Jorge, cujo livro, “Tietê – O rio que a cidade perdeu”, conta a sua história. Artistas o retratavam; nadadores e remadores disputavam provas lá; famílias passavam os feriados nas ilhas e margens do rio. Hoje seria preciso ser corajoso para atravessar as marginais e tentar fazer um piquenique, ou ainda mais se arriscar a dar um mergulho. Adequar o esgoto da cidade é apenas um começo, diz Jorge: muito do que suja o Tietê é o lixo jogado na rua, além da fumaça e do óleo dos carros. “Os problemas do rio são uma expressão dos problemas da cidade – a pobreza e a degradação ambiental.” Sua despoluição serve para mostrar que tudo isso pode ser lentamente superado.

A publicação pode ser lida no idioma original neste link.