O Tietê começa a reviver

Jornal da Tarde - São Paulo - Sexta-feira, 1º de outubro de 2004

sex, 01/10/2004 - 9h54 | Do Portal do Governo

Editorial

A proposta feita pelo governador Geraldo Alckmin ao sobrevoar recentemente o Rio Tietê – ‘Imagina esse rio limpo. Imagina toda essa encosta coberta de verde’ – seria considerada irrealista há alguns anos. Mas graças às obras do Projeto Tietê – considerado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento BID, um de seus financiadores, o programa de saneamento mais bem gerenciado do mundo – esse exercício de imaginação se tornou razoável. Aquele cenário, hoje apenas imaginado, tem tudo para se tornar realidade num prazo relativamente curto para esse tipo de obra – até 2030.

O Projeto Tietê, nascido de idéia lançada pela Rádio Eldorado, do Grupo Estado, e o Projeto Pomar, destinado a cobrir de verde as margens do rio, que teve sua origem em proposta do Jornal da Tarde, começam a apresentar resultados palpáveis. Graças sobretudo ao programa de controle de inundações em execução desde 1998, por meio do alargamento e aprofundamento da calha do rio, as águas do Tietê se mantiveram em seu leito no trecho da Capital nas duas últimas temporadas de chuvas.

Quanto ao programa de despoluição, ele já possibilitou o reaparecimento de algumas espécies de peixes na altura das cidades de Salto e Itu. No ano que vem, o índice de coleta de esgoto no trecho da Grande São Paulo passará de 80% para 84% e o de tratamento subirá de 60% para 70%, com o que 300 milhões de litros de esgoto deixarão de ser despejados diariamente na Bacia do Alto Tietê. Para isso, importantes investimentos foram e continuam sendo feitos: US$ 1,5 bilhão, do início da década de 90 até 2005, no programa de despoluição; e, no mesmo período, R$ 1 bilhão no programa de controle das enchentes.

Mas é preciso ter paciência para atingir o objetivo final, como adverte o presidente do Instituto Internacional de Ecologia, professor José Galizia Tundisi, lembrando que na Inglaterra o trabalho de despoluição do Tâmisa, hoje um dos rios mais limpos do mundo, começou em 1860. O do Tietê, que dispõe de tecnologias mais modernas, deve durar muito menos tempo, mas deve-se ter em mente que ainda resta muito a fazer, como reconhece o governador Alckmin, principalmente no que se refere à educação ambiental, isto é, ao engajamento da população no esforço de recuperação do Tietê.

Este é um ponto da maior importância, pois 35% da poluição acumulada na Bacia do Tietê vem de lixo das ruas. Garrafas, sacos plásticos, latas e até móveis são jogados diariamente, em grande quantidade, no leito do rio. Se, apesar de todos os altos investimentos feito, a população continuar a usar o Tietê como depósito de lixo, estima-se que em 2015 os detritos nele atirados, que vêm das ruas, representarão nada menos do que 65% da sujeira despejada na sua bacia diariamente. Daí a necessidade de se intensificar, a partir de agora, as campanhas educativas destinadas a mudar esse mau hábito da população.