O Estado de S.Paulo
Museu de São Paulo pode agora criar áreas expositivas especializadas para acervo de 10 mil obras reunidas em seus 44 anos
Um novo capítulo se abre na história do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo com uma sede mais adequada ao pleno desempenho de seu papel institucional. Ganharão visibilidade os programas e projetos do MAC e o público encontrará novas formas de ação que dinamizarão o uso social do museu. Com um edifício principal de 21.600 m² será possível, entre outras ações, criar áreas expositivas especializadas para o acervo de quase dez mil obras que o museu reuniu ao longo dos seus 44 anos de existência: áreas especiais para artes gráficas, fotografia, para o acervo moderno e para o acervo de arte contemporânea. Serão áreas destinadas a apresentar exposições resultantes da constante releitura e estudo que o museu desenvolve sobre sua coleção. Este uso diferenciado do espaço não restringirá, entretanto, a produção de curadorias com abordagem multidisciplinar, isto é, reunindo os vetores da coleção e diferentes enfoques críticos. Outro uso que merece referência é a possibilidade de acolher exposições temporárias internacionais, ou em circuito no País, sempre considerando o perfil do MAC como museu de arte, com acervo especializado no século 20 e em constante processo de atualização contemporânea. No entorno do prédio principal pretende-se ter um espaço para programa de residências artísticas e seus desdobramentos, como exposições, workshops e outras atividades. O MAC instalará, igualmente, salas para as suas atividades educacionais, apresentando com mais visibilidade os seus programas e de tal modo a oferecer ações concomitantes. Outra meta do museu que ganhará força são as ações interdisciplinares das artes visuais com outros campos artísticos, implementando eventos de experiência estética e atividades de ensino e pesquisa. O novo prédio permitirá colocar o MAC no circuito cultural de São Paulo como opção de lazer, lugar de vivência artística, formação e informação. Será um edifício diferenciado como acontece com os grandes museus de importante acervo nas grandes cidades do mundo. O museu se prepara para apresentar seu projeto museológico ao arquiteto a ser indicado pelo governo do Estado para a concepção de sua reforma. O Museu de Arte Contemporânea da USP foi fundado em 1963, quando a Universidade de São Paulo recebeu de Francisco Matarazzo, em doação, uma coleção de obras representativas das vanguardas históricas e da arte moderna da primeira metade do século 20. Sua coleção nacional e internacional enriqueceu-se graças a outras doações de colecionadores e com a absorção de obras que participaram de Bienais de São Paulo, bem como por via de doações de artistas contemporâneos brasileiros e estrangeiros. Hoje, o MAC possui um precioso acervo, sempre em constante atualização, sendo depositário de uma valiosa coleção pública. Ao longo de sua história, o MAC vem incorporando obras de caráter contemporâneo, fundamentadas na experimentação de novas linguagens e no uso de novos meios. O século 21 chegou trazendo novos desafios. O Museu recebeu recentemente, por determinação judicial, a guarda e a administração de 1.561 obras da coleção de Edemar Cid Ferreira, que abrange um significativo conjunto de 1.347 fotografias contemporâneas e vem cobrir lacuna no acervo da Instituição. É preciso, desta forma, romper o estereótipo de que o MAC-USP é um museu moderno. Sua história, desde o início, sempre o colocou como um museu contemporâneo, apesar de seu rico acervo de arte moderna. Foi no MAC-USP que nasceu a primeira experiência museológica brasileira voltada para a arte contemporânea. Ela se afirmou no final dos anos de 1960, no exato momento em que se projetava internacionalmente a discussão sobre mudanças que estavam ocorrendo na arte, ocasião em que se debatia uma nova conceituação dos seus paradigmas. O MAC projetava, já então, ações e exposições que mostravam arte contemporânea ao público. Nesse sentido, o Museu de Arte Contemporânea foi, desde o primeiro momento, um museu-fórum, assumindo o compasso dos novos tempos que redefiniriam não só a arte, mas também o papel dos museus na sociedade. O MAC vem sendo gerenciado com rigor administrativo e intelectual que marca a ação dos dirigentes e funcionários da Universidade de São Paulo. No MAC, sempre houve projetos e programas pautados na produção científica e artística. O seu perfil especial, caracterizado pelo vínculo aos valores e às práticas da USP, é uma de suas forças em seu relacionamento com o público externo e com a sociedade brasileira. Como em tantas outras áreas, pertencer à USP é um diferencial positivo e que agrega valor. A verdade que não se pode ocultar é que, desde sua fundação, o Museu de Arte Contemporânea vem lutando para ter uma sede onde, com visibilidade e identidade, possa tornar mais acessíveis ao público não só o importante acervo que possui, mas também atividades que resultam de seu trabalho especializado. Pesquisamos e construímos nossas ações trabalhando com diferentes áreas humanísticas que se ocupam do estudo da arte e que são pertinentes dentro da instituição “museu” e ao perfil do acervo. O Museu de Arte Contemporânea da USP é, talvez, um dos poucos museus brasileiros a ter um quadro diferenciado de profissionais especializados não terceirizados, mas vinculados diretamente à instituição: docentes, pesquisadores, conservadores, técnicos de ensino superior e médio, assistentes administrativos, especialistas em informática e comunicação, além de vigilância preparada para atuar em museu. Vem acolhendo ainda estagiários e bolsistas, muitos deles hoje profissionais atuantes em outros museus brasileiros. A seriedade vem sendo a base ética do trabalho neste museu, ao longo de 44 anos de existência. Este momento histórico que o redimensiona institucionalmente não tem precedentes. Eis o nosso MAC pronto para dar mais força ao cumprimento da sua função social.
Lisbeth Rebollo Gonçalves é professora titular da ECA e diretora do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo
