O golpe contra o PCC

O Estado de S. Paulo - 25/5/2002

sáb, 25/05/2002 - 11h54 | Do Portal do Governo

Editorial

Durante quase cinco meses, policiais gravaram e rastrearam as ligações feitas de aparelhos celulares entre membros da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Identificados e localizados os líderes do PCC, a polícia desencadeou operações simultâneas para prender os que estavam nas ruas e isolar os chefes que já estavam presos, para evitar que organizassem rebeliões nas prisões. Em seis horas, 18 líderes do PCC foram presos, entre eles três advogados e 32 bases telefônicas foram desativadas.

Quando a operação foi concluída, 41 dos 60 principais líderes da organização criminosa estavam presos. Os 25 mais perigosos serão transferidos para o Centro de Reabilitação Penitenciária (CRP) de Presidente Bernardes. Essa foi a ação mais decisiva desencadeada pela polícia para desmantelar a liderança do PCC, desde que a organização foi criada nos anos 90.

O telefone celular, instrumento utilizado pela liderança do PCC para conquistar o controle das penitenciárias paulistas, foi o maior aliado da polícia, nas investigações. Interceptando, com autorização da Justiça, as ligações de mais de cem telefones usados por bandidos, seus advogados, parentes e amigos, além de suspeitos de envolvimento em crimes, policiais do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic) gravaram conversas sobre planejamento de seqüestros, assaltos a bancos e negociações de compra e venda de armas e drogas com membros do Comando Vermelho (CV), no Rio.

A operação foi a resposta das autoridades às tentativas de intimidação praticadas pelo PCC no início do ano. Houve atentados a bomba e bala aos fóruns de Osasco, São Vicente (onde morreu um advogado), Guaianases e Barra Funda, além da tentativa de assassinato de um agente prisional da Penitenciária de Avaré e da invasão da delegacia de Sumaré, onde dois policiais foram assassinados.

As ações criminosas foram realizadas para comemorar o primeiro aniversário da maior rebelião em presídios da história do País, ocorrida em fevereiro de 2001, após a transferência de dez líderes do PCC, do Carandiru para outros presídios. O PCC coordenou motins em 24 presídios paulistas, liderando 15 mil internos e fazendo 9 mil reféns.

Desta vez, para evitar que o PCC reagisse à blitz com outra rebelião nos presídios, os líderes da facção já presos foram isolados. Doze deles que estavam em presídios no interior foram trazidos para a capital. Enquanto policiais civis cumpriam os mandados de prisão de 18 integrantes da cúpula do PCC, a polícia militar ocupou 17 presídios e, em outros 64, os agentes prisionais executaram operações pente-fino, apreendendo 159 telefones celulares, drogas e armas.

‘Foi um grande golpe. A gente precisava de um dia D’, disse, ao final da operação, o secretário da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho.

Sem dúvida, essa operação contribui para aumentar o prestígio da polícia junto à população. A vantagem que as autoridades têm obtido na guerra contra o crime organizado se ampliará quando, a exemplo do que foi feito no Centro de Reabilitação Penitenciária de Presidente Bernardes, todas as prisões forem equipadas com bloqueador de celular, providência essencial para impedir que os líderes de quadrilha continuem a comandar seus sequazes de dentro da cadeia.