O exemplo do HC

Jornal da Tarde - Terça-feira, 20 de abril de 2004

ter, 20/04/2004 - 9h17 | Do Portal do Governo

EDITORIAL

O Hospital das Clínicas (HC), da Faculdade de Medicina da USP, completa 60 anos com um dinamismo e um espírito de vanguarda – sem falar no alto nível do atendimento que presta a todas as faixas da população desde sua inauguração em 19 de abril de 1944 – que o transformaram em exemplo daquilo que deveria ser o serviço público entre nós. Um ideal que infelizmente ainda estamos muito longe de alcançar, mas que ele demonstra não ser de todo impossível.

Um dos aspectos que mais chamam a atenção no caso do HC é que a sua é uma história de expansão contínua sem nenhum comprometimento do alto padrão dos serviços oferecidos. Seu gigantismo, ao contrário do que geralmente ocorre no setor público, foi acompanhado de uma melhora também contínua no atendimento. Seus números impressionam: quase 10 mil funcionários, dos quais 1.400 médicos, 888 médicos residentes, 440 enfermeiros, 2.380 auxiliares de enfermagem, 390 atendentes de enfermagem, além de 366 professores de Faculdade de Medicina da USP; 120 mil atendimentos ambulatoriais; 3.750 cirurgias; 45.830 atendimentos no pronto-socorro; 5 mil internações; 160 mil exames de laboratório; e 24 transplantes, tudo isso por mês.

Mas ele não é apenas o maior, como mostram essas estatísticas – e também o melhor -, hospital público do Brasil e da América Latina, o que por si só justificaria sua existência. O HC, ao mesmo tempo, foi sempre e continua sendo um dos maiores centros de pesquisa do País – um dos pioneiros em todo o mundo em transplantes cardíacos (em 1968, no Instituto do Coração) e de fígado -, e em cujos 62 Laboratórios de Investigação Médica (LIMs) são feitas pesquisas que garantem importantes avanços em vários setores da medicina.

O HC é eficiente também na área de gestão. O Instituto do Coração (Incor) sobrevive em grande parte graças ao reforço de caixa garantido por recursos angariados pela Fundação Euryclides de Jesus Zerbini. Pacientes das classes A e B, atendidos no Incor por meio de seus planos de saúde, destinam àquela fundação pagamentos muito superiores aos recebidos do Sistema Único de Saúde (SUS), dinheiro que ajuda a garantir o mesmo serviço de alto padrão a pacientes carentes. Ou seja, em vez de se entregar a lamentações por causa dos recursos públicos insuficientes que recebe, o HC busca também aí soluções originais.

A grande lição do HC, em seus 60 anos, é a de que nem tudo está perdido no serviço público. Resta esperar que seu exemplo frutifique.