O alfa e o ômega da segurança

Correio Popular - Campinas - Terça-feira, 20 de julho de 2004

ter, 20/07/2004 - 9h37 | Do Portal do Governo

EDITORIAL

O ômega perseguido pela Secretaria de Segurança Pública não faz sentido sem o alfa representado pela crença na honestidade dos agentes da lei

Os investimentos que se destinam a aumentar a eficiência das corporações policiais, anunciados pelo secretário de Estado da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, no final da semana passada, contemplam boa parte das reivindicações e expectativas da sociedade. Será surpreendente se o conjunto de medidas não surtir o efeito desejado, o que inclui a meta oficial de redução da criminalidade em 10%.

O que permite pensar que o Governo estadual está no caminho certo e, conseqüentemente, alimentar esperanças de melhora no setor, é a racionalidade de que parece se revestir o pacote de mudanças. Este privilegia a inteligência tanto como fundamento quanto como meio e fim. A redistribuição do efetivo da Polícia Militar, a primeira de grande monta em 25 anos, embasa-se, por exemplo, num mapeamento que apontou para a divisão do território estadual em quatro eixos – formados pelos municípios de São José dos Campos, Campinas, Santos e Sorocaba – nos quais se concentram 80% dos crimes. Esta percepção levou o Governo a criar um comando da PM em Presidente Prudente e novos batalhões (como o 48º, em Sumaré, com 548 integrantes), além de decidir pelo aumento do efetivo – de 7.432 para 7.706 homens – do Comando de Policiamento do Interior 2, o qual, sediado em Campinas, abrange 90 cidades.

O aperfeiçoamento do trabalho de inteligência é, por outro lado, o objetivo específico de um projeto que, ao custo de R$ 7 milhões, dotará os policiais civis e militares de rádios que possibilitarão o acesso instantâneo aos bancos de dados de suas corporações, do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) e da Secretaria de Administração Penitenciária. Esta modernização, que ainda depende da digitalização das fichas criminais (são 34 milhões, das quais apenas 4,5 milhões encontram-se digitalizadas, esperando-se que a quantidade se eleve para 10 milhões até o final do ano), corresponde a um anseio quase natural do cidadão familiarizado com os recursos da informática.

É ocioso indicar que as providências anunciadas pelo secretário – e noticiadas em nossa edição de sábado – vão, aos poucos, atualizando o aparato repressivo sob a responsabilidade do Governo estadual, embora não o equipare aos melhores do mundo em eficácia e agilidade. À primeira vista, no entanto, o conjunto de iniciativas autoriza e justifica a expectativa de que não só aumente o índice de casos solucionados como se reduza o tempo consumido no processo de sua elucidação. Em suma, é legítimo esperar uma elevação do nível de qualidade do trabalho policial por conta das alterações.

Associadas à implementação da chamada “via rápida” no encaminhamento dos processos que envolvem policiais acusados de corrupção, tais alterações representam sinais positivos, sugerindo à população que a polícia está mudando para melhor. Neste sentido, as mudanças devem constituir um estímulo para os bons policiais, demonstrando-lhes que não precisam conviver com aqueles que se corrompem. Na medida em que o Estado conseguir aprofundar a fronteira que separa uns de outros, poderá intensificar o combate à corrupção policial, que constitui não só um entrave ao trabalho investigativo e repressivo, mas um desestímulo para a própria sociedade, que desanima de informar as ocorrências às autoridades.

Em resumo, modernização e moralização podem e devem progredir juntas: o ômega perseguido pela Secretaria de Segurança Pública com seu projeto de comunicação instantânea dos policiais com os bancos de dados (que leva o nome da última letra do alfabeto grego) não faz sentido sem o alfa representado pela crença na honestidade dos agentes da lei.