O agronegócio como programa de governo

Jornal ValeParaibano - São José dos Campos - Terça-feira, 17 de agosto de 2004

ter, 17/08/2004 - 10h00 | Do Portal do Governo

Duarte Nogueira *

O agronegócio, que nos últimos tempos passou a ser visto como a grande riqueza nacional, é também, na verdade, o que move a grande maioria dos municípios brasileiros. Em São Paulo, por exemplo, das 645 cidades, 600 têm a economia voltada à produção no campo. E essa é uma informação que considero de extrema importância na elaboração dos programas de governo dos candidatos e partidos que concorrem à sucessão eleitoral.

São Paulo, maior plataforma agrícola do país, foi responsável por 17,3% de tudo o que o campo brasileiro produziu no ano passado. O valor da produção agropecuária paulista, ou seja, a produção antes da porteira, atingiu em 2003, R$ 24,74 bilhões. Em relação ao ano anterior, 2003, o crescimento real (preços deflacionados) foi de 2,52%. Para uma economia que apresentou um crescimento negativo de 0,2%, o resultado atingido pelo agronegócio é exemplar. É o setor também que garante o equilíbrio na balança comercial brasileira.

No entanto, o resultado global é a soma das partes. Ou seja, os municípios paulistas são os grandes responsáveis pelo êxito do setor e precisam de um planejamento que vise a um desenvolvimento crescente e sustentável. O agroneócio é, segundo o Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, responsável por 37% dos empregos gerados no país. Cada R$ 1 milhão investidos na agropecuária, por exemplo, implicam na geração de 182 postos de trabalho. No caso da construção civil, forte setor da economia, a relação é de 48 empregos para cada R$ 1 milhão.

É evidente que a instalação de indústrias e empresas no município é um importante meio de geração de postos de trabalhos mas o enfoque tem se transformado nos últimos tempos. Atualmente, o desenvolvimento industrial é visto de forma global, reunindo os elos da cadeia de produção em uma mesma área geográfica. São os cluster ou arranjos produtivos locais. O agrupamento de empresas do mesmo ramo em uma região que também concentra fornecedores de produtos, matérias-primas, insumos, componentes e equipamentos garante maior valor agregado e competitividade das empresas.

É um processo que exige planejamento, estabelecimento de metas e envolvimento multi-setorial. E a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo pode ajudar muito nessa tarefa de buscar o desenvolvimento integrado e sustentável, seja por meio de seus programas ou de sua estrutura técnica, ramificada praticamente em todos os municípios do Estado por meio de seus 40 escritórios regionais ou das Casas de Agricultura.

Essa estrutura disponibiliza informações sobre culturas, estimativas de safras, áreas, sanidade e produção animal, pesquisa. Todo o Estado é ‘coberto’ pelos 15 pólos regionais voltados ao desenvolvimento dos agronegócios. Um exemplo bem prático do envolvimento dessa rede na formação de um arranjo produtivo local é o caso de Votuporanga, na região noroeste do Estado.

Lá, pesquisa desenvolvida pelo pólo regional na extração de óleo essencial de manjericão, chamado linanol e utilizado como fixador em perfumes famosos, provocou a instalação de uma indústria no município para essa finalidade. E como esse, temos exemplos em várias partes do Estado, onde a aplicação da pesquisa, da ciência é parte importante do desenvolvimento regional, focado nas vocações dos municípios.

Felizmente não existe mais o preconceito de que assumir o agronegócio nos condenava à caipirice. O administrador moderno tem de ver nesse setor um importante meio de geração de emprego e renda e fazer dele um capítulo de destaque em seu programa de governo.

(*) Duarte Nogueira é secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.