Número de transplantes cresce 18,2% em SP

Folha de S. Paulo - Sexta-feira, 19 de dezembro de 2003

sex, 19/12/2003 - 10h31 | Do Portal do Governo

Estado tem 18.570 pessoas à espera de doação; no país, fila cresceu 9,57%, mas expectativa é aumentar cirurgias em 4,7%

Caio Junqueira, da reportagem local

O número de transplantes de órgãos realizados neste ano em São Paulo cresceu 18,2% em comparação a 2002, de acordo com a Secretaria Estadual da Saúde. Apesar disso, 13.420 pessoas no Estado aguardam na fila por um órgão. Outras 5.150 esperam por córneas (que são tecidos). Isso significa um aumento de 5,84% em relação a 2002.

No país, a situação é pior, pois o crescimento da fila foi bem maior que o de transplantes. Enquanto o Ministério da Saúde espera aumentar o total de operações em 4,7% no mesmo período, 56.717 pessoas aguardam por um transplante -um aumento de 9,57%.

Segundo o ministério, foram realizados, até setembro deste ano, 8.355 transplantes de córneas e de órgãos em todo o país, sendo 3.388 apenas no Estado de São Paulo. Os dados da Secretaria da Saúde diferem dos do ministério, já que estão atualizados até o dia 15 deste mês: são 3.908 cirurgias (2.930 de córneas).

Há Estados, porém, que nem sequer realizam transplantes por falta de estrutura e de profissionais especializados.
Apesar do crescimento, os números de cirurgias em São Paulo ainda estão aquém do ideal. São cerca de 9,9 doadores por milhão de habitantes. Na Espanha, que tem as melhores taxas, são 33,5 por milhão de habitantes.

Na espera

Manoela Ungari, 22, espera por um pulmão há 18 meses. Ela tem fibrose cística, uma doença genética que ataca os pulmões e o pâncreas, o que a obriga a conviver com uma bolsa portátil de oxigênio, recarregável a cada quatro horas. Sua irmã, Jessica Ungari, 20, sofre da mesma doença e, segundo os médicos, ela também precisará de um transplante.

As irmãs Eva Cristina, 24, Ana Paula, 22, e Ana Maria Reinelt, 22, estão na fila há três anos e meio. Elas precisam de um transplante de rim por sofrerem de glomeruloesclerose focal, doença rara que afeta 42 pessoas no mundo. Enquanto esperam, elas têm sessões de quatro horas de hemodiálise, três vezes por semana.

O produtor musical Wanderlei Guarino, 38, é um dos que estão entrando na fila de espera por um fígado. Após a extração de um cálculo renal no início do ano, ele descobriu ter cirrose hepática.

‘Quando recebi a notícia, desmoronei’, afirma.Os médicos lhe deram quatro anos de expectativa de vida sem o transplante – tempo médio de espera na fila.

O ator Norton Nascimento, 41, está internado na UTI do hospital da Beneficência Portuguesa, em São Paulo, após ter sofrido sérios problemas cardíacos. De acordo com o boletim médico divulgado na tarde de ontem, o estado do ator é ‘gravíssimo’, e ele aguarda um transplante de coração.

Nascimento foi hospitalizado no último dia 15 para uma cirurgia de correção de aneurisma na aorta, problema diagnosticado há cerca de quatro meses. Durante a cirurgia, o ator teve insuficiência cardíaca grave devido ao mau funcionamento do ventrículo esquerdo, o que fez com que fosse imediatamente levado à UTI.

A Folha apurou que, até o fechamento desta edição, não havia na central de transplantes de São Paulo nenhum órgão compatível para o ator.

Fila única

Embora seja chamada de ‘fila única’, nem sempre quem está na frente da lista de espera recebe primeiro os órgãos de um eventual doador. Isso porque é preciso considerar características do receptor e do doador do órgão -como idade, peso, altura e grupo sanguíneo. Além disso, o receptor pode não ser localizado a tempo ou não estar em condições de receber o órgão no momento.

Para o presidente da ABTO (Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos), José Osmar Medina Pestana, a fila vai continuar aumentando, ainda que o número de transplantes cresça.

‘Quanto melhor o sistema de saúde, maior o número de pessoas que vão entrar na fila de transplantes e menor o número de pessoas que vão morrer com capacidade de doar’, diz.

Pestana afirma que a prioridade é aumentar a conscientização das pessoas e dos hospitais, já que, de cada dez potenciais doadores, as instituições notificam às centrais de transplantes apenas um.

Já o coordenador da central de transplantes da Secretaria da Saúde, Luiz Augusto Pereira, atribui o aumento de operações no Estado de São Paulo ao modelo gerencial adotado pela central desde 1998.

‘A captação de órgãos foi descentralizada no Estado em dez regiões. Cada hospital ficou responsável por uma delas e, dentro deles, aumentou o trabalho de conscientização’, disse Pereira.

Seis desses hospitais estão localizados no interior (Campinas, Sorocaba, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Marília e Botucatu) e quatro na capital. Em cada um deles funciona uma OPO (Organização de Procura de Órgão).

Para diminuir a fila de espera, o Ministério da Saúde lançou, em novembro, uma campanha para incentivar que as pessoas que querem doar órgãos comuniquem a decisão aos seus familiares. Em caso de morte cerebral, a família pode autorizar a doação.

* Colaborou a Ilustrada