Novos setores buscam crédito de carbono

Valor Econômico - Sexta-feira, dia 16 de junho de 2006

sex, 16/06/2006 - 10h57 | Do Portal do Governo

Natalia Gómez

A nova geração de projetos brasileiros apresentados na ONU para obtenção de créditos de carbono conta com uma participação crescente de setores industriais e de transportes. Os primeiros projetos, ao contrário, eram voltados para a queima de gás metano em aterros sanitários, mais atrativos por envolverem investimentos baixos (cerca de US$ 2 milhões para aterros de porte médio) e risco pequeno para os investidores, ainda inseguros para apostar grandes valores em um mercado incipiente. Sergio Zacchi / Valor

 

No entanto, a maturação do mercado de carbono ligado ao Tratado de Kyoto – que permite aos países e empresas poluidoras compensarem as suas emissões comprando créditos de carbono de companhias consideradas limpas – e a aprovação de novas metodologias para a geração do crédito já estão motivando uma série companhias a elaborarem projetos diferenciados. Este é o caso da Braskem, da Aracruz e até do Metrô de São Paulo.

“O volume de transações cresceu exponencialmente e o preço médio dos créditos também subiu”, diz o diretor da área de estruturação de projetos da KPMG, Alan Riddell. O número de certificados de redução de emissões vendidos cresceu de 500 milhões em 2004 para 2,5 bilhões no ano passado. No primeiro trimestre deste ano, o volume chegou a 900 milhões de certificados.

Foi pensando nisso que a petroquímica Braskem decidiu desenvolver projetos em todas as suas 13 unidades para reduzir a emissão de gases estufa. “Há algum tempo estamos planejando mas só agora sentimos que seria um negócio seguro”, diz o vice-presidente de competitividade empresarial, Roberto Ramos.

A companhia prevê investir US$ 30 milhões nos próximos três anos para reduzir a emissão de 1 milhão de toneladas de gás carbônico por ano, o que representa uma queda de 20% nas emissões atuais. Como a tonelada vale cerca de US$ 10, o ganho deve ser de US$ 10 milhões por ano. Há três meses, a companhia contratou a consultoria americana ERM para fazer o inventário dos gases emitidos pelas suas fábricas.

O primeiro projeto da Braskem – ao todo são 20 – deve sair do papel entre este ano e o próximo em uma fábrica da empresa em Camaçari (BA), onde será feita a troca de um combustor de amônia, que libera um gás nitroso, 310 vezes mais poluente que o gás carbônico.

Outras modalidades de projetos que estão sendo aprovadas pela ONU – na área de eficiência energética e troca de combustíveis – devem aumentar o desenvolvimento de novas iniciativas, de acordo com Riddell, da KPMG. A área de transporte é uma com grande potencial, mas ainda enfrenta dificuldades para aprovação de metodologia. “É muito difícil conseguir aprovar as medições de redução de gases nesta área”, explica Marco Monroy, presidente da MGM, empresa americana especializada em consultoria e venda destes créditos no mercado internacional.

Este será um desafio para o metrô paulista, que está preparando o que pode ser o primeiro projeto de créditos de carbono na área de transportes do mundo. Com a construção da linha 4, que ficará pronta em 2012, o metrô prevê reduzir a emissão de 250 mil a 300 mil toneladas de gás carbônico ao ano, graças à diminuição do número de passageiros de ônibus e automóveis.

No entanto, como não é possível medir com exatidão o número de pessoas que deixarão de usar seus carros, o projeto deve pleitear créditos equivalentes a cerca de 10% dessa redução de emissões. No caso dos ônibus, a avaliação é mais fácil.

“Não existe nenhuma metodologia já aprovada nesta área”, diz Luiz Antônio Cortez, responsável pela área ambiental. O plano do Metrô é fazer um leilão destes créditos na BM&F, segundo ele. A Colômbia tem um projeto semelhante, ligado à expansão do sistema de ônibus em Bogotá, que ainda não foi aprovado.

Um dos principais entraves para os novos projetos é demonstrar que a empresa está fazendo um investimento adicional para obter o crédito de carbono. “Se o projeto reduz os custos ou seria feito de qualquer forma, sua aprovação é mais difícil”, explica Riddell.

A fabricante de papel e celulose Aracruz enfrentou este problema ao apresentar em setembro do ano passado uma proposta de substituição da frota de caminhões por barcaças marítimas para reduzir a emissão de poluentes. Segundo a gerente de meio ambiente corporativo da Aracruz, Rosane Monteiro Borges, ele foi rejeitado porque a ONU alegou que a companhia tomaria essa iniciativa de qualquer forma, por ser mais econômica.

No entanto, a empresa está à espera da aprovação de algum projeto semelhante no mundo para investir em modificações e apresentá-lo novamente. Sua estruturação custou cerca de R$ 250 mil, segundo a gerente. Enquanto isso não acontece, a Aracruz está em busca de outras áreas para o desenvolvimento de créditos carbono.

Mesmo com estes entraves técnicos, a consultoria PricewaterhouseCoopers prevê que o número de projetos brasileiros ligados a Kyoto dupliquem nos próximos 12 meses, puxados principalmente pelo setor industrial. Hoje existem mais de 40 projetos do Brasil registrados. “As empresas estão enxergando um mercado mais ativo”, diz Rogério Gollo, sócio da área de sustentabilidade da Price na América do Sul.