Novos cursos da USP tornam graduação áreas especializadas

O Estado de S. Paulo - Segunda-feira, 25 de julho de 2005

seg, 25/07/2005 - 10h07 | Do Portal do Governo

‘Estado’ detalha as 7 novas graduações, que somam 290 vagas; manual começa a ser vendido no dia 8

Renata Cafardo

O manual da Fuvest chega no dia 8 às agências bancárias com sete cursos novos, aprovados este ano pela Universidade de São Paulo (USP). A maior parte deles sequer existe em qualquer faculdade do País e o conjunto mostra uma tendência de trazer para a graduação áreas que ficavam no nível da especialização, como Química Forense, Controladoria, Física Computacional, Química Forense. O de Design, pelo ineditismo em instituições públicas, já surge prometendo concorrência acirrada logo no primeiro vestibular.

Segundo o reitor da USP, Adolpho José Melfi, há a necessidade de pessoal especializado em algumas áreas e a universidade acaba respondendo a essa demanda. No entanto, Melfi acredita que é importante oferecer uma formação mais geral aos estudantes, principalmente em humanidades. É o que ocorreu este ano com a criação da USP Leste, em que todos os novos alunos passam pelo chamado ciclo básico antes de focalizarem as carreiras que escolheram.

São, portanto, duas tendências dentro da universidade. “A USP é um aglomerado de escolas”, justifica Melfi. Abaixo, um detalhamento dos sete novos cursos – que totalizam 290 vagas – antes das inscrições da Fuvest, nos dias 11 e 18 de setembro.

DESIGN
40 VAGAS NOTURNO

O primeiro curso de Design em uma universidade pública terá a participação de quatro unidades da USP. As aulas serão na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), mas disciplinas como comunicação, gestão, marketing e engenharia de materiais serão organizadas por professores da Escola de Comunicação e Artes (ECA), Faculdade de Economia e Administração (FEA) e Escola Politécnica, respectivamente. “O aluno terá uma formação básica de design para atuar em todas as áreas: desenho industrial, programação visual, design de interiores, web design, entre outras”, diz o responsável pela montagem do curso, Paulo César Xavier Pereira.

A intenção, segundo ele, é também a de incentivar a pesquisa durante a graduação, com solução de problemas e criação de linguagens para a produção industrial brasileira. Pereira já busca contatos com empresas dispostas a formar parcerias.

O Design é um desdobramento do curso de Arquitetura, até então a única formação na USP para quem pretendia seguir nessa área. “Acabei aprendendo muita coisa na raça”, lembra o arquiteto Maurício Lamosa, proprietário hoje de um estúdio de design em São Paulo. Segundo ele, faltaram noções de abordagem do cliente, marketing e processo produtivo na faculdade.

O novo curso, pela procura registrada em instituições particulares, já nasce com a promessa de muita concorrência no vestibular da Fuvest. A prova da segunda fase terá exames práticos de geometria e linguagens bidimensional e tridimensional.

QUÍMICA FORENSE
20 VAGAS DIURNO

A série de TV americana Crime Scene Investigation (CSI) tornou conhecida a profissão de peritos forenses, que checam evidencias de um crime por meio de análises de fios de cabelo, sangue, saliva. O novo curso da USP em Ribeirão Preto – inédito no País – formará justamente esses investigadores capazes de usar a química para decifrar um mistério. “Eles terão toda a formação de químico e já saem com uma especialização”, diz o professor Pietro Ciancaglini, que participou da elaboração do curso.

Na grade curricular, há disciplinas da área do Direito, além das científicas. Atualmente, segundo Ciancaglini, os químicos aprovados em concursos da Polícia Federal precisam ainda passar por cursos especiais para se tornarem peritos. O curso será uma das habilitações a ser escolhida dentro da recém-criada carreira de Química em Ribeirão. O professor explica que também será voltado para a pesquisa de novos métodos e técnicas de investigação forense.

CIÊNCIAS FÍSICAS E BIOMOLECULARES
40 VAGAS INTEGRAL

O primeiro curso de Ciências Físicas e Biomoleculares da América Latina será dado no Instituto de Física da USP de São Carlos. O foco é a chamada biotecnologia, uma área de destaque na ciência atualmente, mas pouco abordada em cursos de graduação. A biotecnologia é o estudo ou a exploração de recursos biológicos para o desenvolvimento de novas tecnologias, como por exemplo o melhoramento de plantas para a agricultura, as pesquisas com células-tronco e a fabricação de vacinas e hormônios utilizando microrganismos geneticamente modificados.

“Não queremos formar só um acadêmico”, diz Otávio Henrique Thiemann, um dos responsáveis pela elaboração do curso. A intenção é que o formando esteja pronto para trabalhar em empresas de pesquisas em agropecuária, como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), biotecnologia e bioinformática, carentes no País desse tipo de profissional. Além de muita física, estudo de moléculas e matemática, uma das disciplinas obrigatórias é a de empreendedorismo.

ATUÁRIA
50 VAGAS NOTURNO

O nome é complicado, mas seu significado faz parte do dia-a-dia de todo brasileiro. Planos atuariais são todos os pagamentos feitos pelos indivíduos a uma instituição para ter benefícios futuros, como seguros de vida, de saúde, de carro, previdência, fundos de pensão. “Nos últimos anos, esse mercado ficou enorme. O governo foi passando para a iniciativa privada a saúde e a aposentadoria, por exemplo”, diz o chefe do Departamento de Contabilidade e Atuárias da FEA, Reinaldo Guerreiro. Foi por isso, segundo ele, que a unidade decidiu trazer de volta do curso de Atuárias, que existiu até os anos 1980 na FEA.

Guerreiro explica que a idéia é formar um profissional também preparado para trabalhar no ativo das empresas do setor, principalmente na aplicação dos recursos, e não apenas calculando os passivos. O curso terá disciplinas de probabilidade, demografia, direito, contabilidade, entre outras.

FÍSICA COMPUTACIONAL
40 VAGAS INTEGRAL

Saber usar o computador cientificamente é o objetivo de quem vai se formar no novo curso de Física Computacional, que será dado no Instituto de Física de São Carlos. Exemplos dessa utilização são as simulações em computador do chamado túnel de vento, em que se testa a aerodinâmica e a resistência de certas estruturas. “Não é preciso montar todo o modelo do túnel, coloca-se as leis físicas e o computador simula a situação”, explica o professor Gonzalo Travieso, que participou da elaboração do curso.

A Física Computacional pode também ser usada para desenvolver novos materiais resistentes a altas temperaturas; o computador, mais uma vez, simula essas variações. Outra aplicação é a meteorologia, com previsões feitas por computação. Um curso inteiro com esse perfil é inédito no País, mas já era uma opção dentro do bacharelado de Física em São Carlos. “O formando será um físico completo, com o acréscimo da computação”, afirma Travieso.

LICENCIATURA EM ENFERMAGEM
50 VAGAS NOTURNO

Mais um novo curso na unidade de Ribeirão Preto, que não existe em qualquer universidade do País. Licenciatura em Enfermagem, como o próprio nome diz, vai formar profissionais para atuarem no ensino técnico e profissionalizante da área de Enfermagem. “Há muitas escolas de auxiliares e técnicos, mas não há cursos para formar as pessoas que vão ensiná-los”, diz a diretora da Faculdade de Enfermagem de Ribeirão, Isabel Amélia da Costa Mendes. Na prática de um hospital, os técnicos e os auxiliares apenas executam os cuidados prescritos pelo enfermeiro, que, diferentemente deles, tem curso superior.

“Todo enfermeiro tem de saber educar seu paciente a se cuidar. Mas muitos não têm a didática para ensinar um grupo de alunos”, diz a enfermeira e professora do Senac no Espírito Santo, Tarsila Cunha. A nova graduação terá cinco anos. Segundo Isabel, 19 professores estão sendo contratados para atuar no curso, em disciplinas pedagógicas. Os formandos terão todo o conteúdo técnico-científico para trabalharem como enfermeiros, além da formação de licenciatura.

ECONOMIA EMPRESARIAL E CONTROLADORIA
70 VAGAS DIURNO

O primeiro curso diurno da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) de Ribeirão Preto será a junção dos três já existentes na unidade. A intenção é formar um economista ou contador, com fortes noções de administração de empresas, o que não ocorre nos cursos tradicionais. O estudante, no entanto, terá de escolher no último ano se segue na chamada área de Economia Empresarial ou na de Controladoria.

“Atualmente, com a globalização, várias profissões acabam precisando de uma especialização em administração, por isso existe tanto MBA por aí”, diz o diretor da FEA de Ribeirão, Marcos Cortez Campomar. Por isso, o novo economista formado pelo curso terá também disciplinas de finanças, marketing, recursos humanos. Assim como o controlador, profissional especializado, entre outras coisas, em ajudar os contadores a verificar as contas das empresas e a organizar auditorias.