Novo câmpus deve beneficiar a Zona Leste

Jornal da Tarde - 3/11/2003

seg, 03/11/2003 - 11h16 | Do Portal do Governo

Marici Capitelli


Uma revolução. É isso que a população acredita que a Zona Leste – onde vivem quase 4 milhões de pessoas – vai sofrer com a criação da nova USP. A expectativa geral é de que a qualidade de vida melhore com a parceria da
comunidade e a universidade em projetos sociais. A tendência apontada também é de aquecimento da economia local.

O mercado imobiliário está agitado com a perspectiva de inauguração do câmpus, que terá 1 milhão de metros quadrados. Além de empresas, a universidade terá como vizinhos os cerca de 20 mil moradores do loteamento
clandestino Keralux, que teve início há quase 10 anos.

“A universidade terá um impacto econômico, cultural e na qualidade de vida para todos nós”, afirmou o subprefeito de Ermelino Matarazzo, Arnaldo Bispo, que há 15 anos iniciou o movimento pela universidade pública na Zona Leste. Segundo ele, todo o Plano Diretor de Ermelino foi preparado para receber o campus.

“Não é uma universidade só da Zona Leste. Ela vai receber estudantes de todos os locais, promovendo com isso o desenvolvimento da região”, afirmou Antonio Luiz Marchionne, de 51 anos, o padre Ticão com 25 anos de militância social na Zona Leste.

“Não resta dúvidas de que a USP vai ser o marco divisor entre duas fases da história da região”, enfatizou Ademir Gimenes Peres, de 50 anos, coordenador do cursinho pré-vestibular para carentes.

De acordo com Getúlio de Souza Andrade, de 49 anos, dono de uma das maiores imobiliárias de Ermelino Matarazzo, já está havendo consultas de pessoas interessadas em comprar terrenos na região. “A expectativa é de que exista uma valorização dessas áreas para a construção de novos empreendimentos”, ponderou. Os clientes que têm imóveis para alugar também esperam um aquecimento. A mesma expectativa é de Leonor Iozzo Herrero, que há 27 anos tem uma imobiliária localizada perto do novo câmpus. “Acreditamos que o grande movimento vai ser de locação tanto para estudantes como funcionários”, avaliou.

Até mesmo o ensino particular na região deverá ter melhor qualidade, na avaliação dos mais otimistas. Na Zona Leste existem cerca de 15 faculdades que somam cerca de 70 mil alunos. “Nós já podemos perceber que as universidades estão melhorando seus câmpus e oferecendo mais bolsas para os alunos.” Essa é a visão do estudante André de Jesus Oliveira, de 25 anos, que cursa o último ano de geografia em uma escola particular. Duas lojas
populares de móveis e eletrodomésticos também estão se instalando na região.

Melhorar de vida, a esperança

Se os projetos se concretizarem, a USP Zona Leste será um núcleo voltado para o aspecto social.

Uma das reivindicações da comunidade já começa a ser atendida. É que a universidade ajude na instalação de novos cursinhos vestibulares para alunos carentes.

O objetivo é que mais estudantes da região tenham condições de cursar a USP. De acordo com a estimativa de
Ademir Gimenes Peres, coordenador do cursinho para carentes Educafro – Luz de Ermelino, existem 30 unidades
do gênero na Zona Leste. “Nós precisamos chegar a pelo menos 100 para ter um em cada bairro. Os alunos enfrentam dificuldades até para pagar o transporte.” Para se ter uma idéia, 40% dos seus alunos estão inadimplentes porque não conseguem pagar R$ 24 de mensalidade.

O professor Wanderley Messias da Costa considera fundamental a ampliação de unidades. “Se não conseguirmos professores que se proponham a atuar nessas unidades, uma das alternativas será oferecer bolsas para os mestrandos e doutorandos atuarem na região.” A professora de geografia Maria Aparecida Lopes, de 47 anos, dá aulas em uma das regiões mais periféricas da Zona Leste e já tem se encarregado por conta própria de divulgar a nova universidade. Digo para meus alunos que eles podem ser alunos da USP.”

Câmpus oferecerá auxílio-moradia

O câmpus da USP não prevê a construção de alojamentos, a exemplo dos que existem na unidade Butantã, na Zona Oeste. Com isso, a universidade deverá oferecer um auxílio-moradia para os estudantes carentes que morem
longe do câmpus. O objetivo é que os alunos não desistam do curso diante das dificuldades. “Não é só passar na USP, é preciso ter uma estrutura. O aluno que desiste custa muito caro para a sociedade e fica frustrado”, ponderou Luiz Antonio Marchionne, o padre Ticão.

A população pleiteia o auxílio de uma bolsa mensal com a qual os carentes pudessem pagar o aluguel, a comida e o material didático. Os valores, entretanto, estão sendo estudados pelos integrantes da comunidade.

A USP descarta a bolsa por falta de verba, mas estuda a locação de quartos em casas de família e pensões nas imediações para abrigar os carentes. Essa é uma das garantias do aquecimento do mercado imobiliário.

“Nós não queremos que esses estudantes desistam e vamos oferecer também apoio psicológico e social”, garantiu o
professor Wanderley Messias da Costa. Estimativas apontam que cerca de 30% dos estudantes da USP são carentes.

“Não é só passar na USP, é preciso ter uma estrutura. O aluno que desiste custa muito caro para a sociedade e fica frustrado”, disse o padre Ticão.