Novas tecnologias para preservar estradas rurais

O Estado de S. Paulo - Quarta-feira, 30 de março de 2005

qua, 30/03/2005 - 9h03 | Do Portal do Governo

A prática comum de ‘passar a máquina’ é altamente danosa ao meio ambiente

Tânia Rabello

Estrada rural mal conservada ou construída e conservada de maneira incorreta é prejuízo na certa. Na hora de construir uma estrada de terra, adotar critérios como simplesmente acompanhar a divisa entre propriedades, sem levar em conta desníveis no terreno e o tipo de solo, são os ingredientes para que seu leito se transforme num foco de erosão e, mais grave ainda, numa interminável fonte de escoamento de terra para córregos ou rios próximos, assoreando-os e reduzindo sua capacidade de fornecimento de água. Sem falar na perda de terra produtiva das propriedades vizinhas à estrada. Junto com a erosão e com a terra que se vai, surgem as costelas-de-vaca e os buracos maiores, que só ajudam a prejudicar o bom fluxo dos veículos e mercadorias agrícolas que por ela têm de passar.

Na tentativa de ‘consertar’ a estrada esburacada, outro grande erro é a prática de ‘passar a máquina’, ou seja, nivelar a estrada com o uso de dispendiosas máquinas. ‘Esta prática vai afundando o leito da estrada e criando aqueles barrancos laterais altos, muito comuns, e que denunciam uma maneira incorreta e danosa de ‘conservação’ da estrada’, explica o agrônomo José Luiz Fontes, da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), da Secretaria de Agricultura paulista. ‘Além disso, obriga prefeituras a investirem, desnecessariamente, em caros equipamentos de conservação, quando há soluções alternativas bem mais baratas.’

Muitas estradas já estão construídas, porém, e precisam, agora, passar por uma boa reforma, que leve em conta a declividade do terreno e o tipo de solo, se ele tem maior ou menor capacidade de infiltração, além de parâmetros socioeconômicos e ambientais. Segundo Fontes, a conservação de estradas rurais é de responsabilidade das prefeituras municipais, mas as estradas internas é de responsabilidade dos proprietários.

Práticas caras

Dentro do Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas, gerido pela Cati, há um componente, chamado ‘Adequação de Estradas Rurais’, que tem, entre outros objetivos, contribuir com os municípios para uma maior eficácia dos trabalhos de conservação de estradas rurais, capacitando técnicos e demonstrando que, para cada situação, deve-se optar pela intervenção que provoque o menor impacto ambiental e que tenha o menor custo. ‘O maior problema quando se fala em conservação de estradas rurais é a adoção de práticas caras e ambientalmente danosas’, diz.

Conforme diz Fontes, as estradas devem ser construídas para atender a longo prazo a demanda de tráfego e possibilitem o acesso às áreas cultivadas durante o ano todo, com chuva ou não. ‘Além disso, elas são parte do meio rural e, para serem integradas à paisagem, devem ser observados os requisitos de preservação ambiental, bem como de proteção e condução adequada das águas.’

Economia de custos é levada em conta

A técnica mais utilizada, no Estado de São Paulo, nos últimos anos, tem sido a quebra de barranco, com a posterior elevação do leito da estrada (veja página ao lado). Ou seja, faz-se a terraplanagem da estrada utilizando-se terra do próprio barranco lateral, aplaianando todo o terreno e adotando técnicas próprias para a drenagem, como os ‘bigodes’, e o amortecimento do impacto da água da chuva, uma das principais responsáveis pela erosão.

‘Esta técnica é eficiente em alguns casos, mas não em todos’, explica Fontes. ‘É adequada quando o barranco não está muito alto – o que tornaria antieconômica a sua retirada – e o solo tem boa capacidade de infiltração de água’, explica. ‘Mas, se o barranco estiver muito alto, acima de 3 metros, por exemplo, o melhor é estabilizar a estrada e o barranco com outras tecnologias (veja ilustração ao lado)’, explica.

‘A largura da estrada também é um item a ser considerado, e deve ser sempre compatível com a demanda e o tipo de tráfego’, diz Fontes. Outra dica que barateia bastante o processo é lançar mão de materiais locais na reforma, além de mão-de-obra local, e, para conservar a estrada por um longo período, garantir a cobertura vegetal de suas laterais, também para evitar erosão.

‘Em situações em que não compensa retirar o barranco, realizar uma cobertura vegetal de sua superfície também é essencial, para evitar que a sua terra continue sendo despejada no leito da estrada’, explica o agrônomo. ‘Em alguns casos, o plantio de árvores ou arbustos à margem da estrada também é interessante’, continua. ‘Plantando espécies com raízes profundas, melhoramos o aspecto paisagístico e garantimos maior estabilidade aos taludes (barrancos).’

Represa em Pardinho até recuperou a transparência

A antiga estrada que ligava Pardinho a Botucatu (SP) recebia, até alguns anos, um fluxo muito grande de caminhões, carros e ônibus. Quando foi inaugurada uma outra estrada, de asfalto, que faz esta mesma ligação, o que sobrou da via de terra foi um grande trecho com barrancos de até 4 metros, muita erosão no seu leito, alguns atoleiros quando chovia e uma represa natural, na propriedade do produtor Alcides Bosco, que abastece a cidade de Botucatu, com a água turva e barrenta por causa da terra erodida.

Depois de uma reforma, em dezembro, tudo sumiu: o barranco, a erosão, os atoleiros e até a água barrenta. “Vem chovendo muito e a água da lagoa está clarinha, clarinha”, diz, satisfeito, Bosco.

Com recursos do Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas, financiado parcialmente pelo Banco Mundial, a Cati, em parceria com a Prefeitura de Pardinho, reformou 5 quilômetros críticos de estradas na Microbacia do Alto Pardo, sendo 1 quilômetro dentro da propriedade de Bosco. “Aqui estão as cabeceiras do Rio Pardo, daí a importância da reforma e de acabar com a erosão da estrada”, continua o produtor.

A terra dos barrancos nivelou o leito da estrada, cujo traçado passou a acompanhar o relevo e as curvas de nível, e foram construídos “bigodes”, espécies de “piscinas” nas laterais da estrada para represar a água da chuva e impedir que a terra vá para os cursos d’água. Além disso, pedregulhos foram despejados no leito, para garantir melhor trafegabilidade.

“Mesmo com muita chuva, nenhum carro atolou mais aqui”, diz Bosco, que lembra das vezes em que precisou usar seu trator para puxar carros atolados.

Em sua propriedade, de 380 hectares, com milho e café, além de pecuária de leite, escoa a produção sem problemas. “Até o meu vizinho, que ficou cismado com a quantidade de terra que precisou ser movimentada para reformar a estrada, acabou dando o braço a torcer, por tantos benefícios que a reforma trouxe”, conclui.

Mais informações podem ser obtidas com a CATI – tel. (0–19) 3743-3700