Nova USP desponta na zona leste

O Estado de S. Paulo - São Paulo - Domingo, 9 de janeiro de 2005

dom, 09/01/2005 - 18h28 | Do Portal do Governo

No meio dos 260 mil m2 do campus, ritmo das obras é apressado; inauguração será no dia 25 e aulas começam em março

Renata Cafardo

O novo endereço da Universidade de São Paulo (USP) é um prédio sem número da desconhecida Avenida Arlindo Bétio. O barro ainda toma completamente o terreno no distante bairro de Ermelino Matarazzo, apesar da inauguração marcada para o dia 25. ‘Acho que a chuva está contra a ampliação do ensino superior público’, brinca o prefeito da Cidade Universitária, que gerenciará também o campus da USP Leste, Wanderley Messias.

O prédio amarelo quase some no meio dos 260 mil metros quadrados de área. Ele representa os dois primeiros blocos de um futuro complexo que terá pelo menos outras cinco construções. A reportagem do Estado visitou o local na semana passada com o responsável pela obra, Antonio Marcos Massola, ex-diretor da Escola Politécnica. ‘Fizemos tudo em quatro meses’, diz. Para poder receber os 1.020 alunos já em março, ele explica, foi preciso adaptar o mesmo projeto elaborado para a expansão do campus de São Carlos da USP. O restante, garante, seguirá o projeto inicial do arquiteto Sylvio Sawaya.

O prédio tem salas de aula, seis laboratórios, três auditórios para 60 pessoas cada um e portas pintadas de vermelho, laranja ou azul. Da grande varanda no segundo andar, a vista é a Rodovia Ayrton Senna e a cidade de Guarulhos. No campus que nasce, já se vêem também a construção simples do restaurante, com capacidade para servir 1.500 refeições por dia, outro prédio para a administração e a guarita de segurança. É tudo o que está em pé até agora.

‘Presenciar as construções dá a sensação de que você está vivendo a história da universidade, crescendo junto’, diz a hoje diretora da Fuvest, Maria Teresa Fraga Rocco, que foi aluna na também distante e inacabada Cidade Universitária da década de 60. A USP, criada em 25 de janeiro de 1934, planejava construir o campus nos anos 50, mas as obras só começaram na década seguinte.

Na semana passada, o pedreiro Luís Costa, de 31 anos, operava a betoneira, alegre por poder chegar em seis minutos ao local de trabalho. Pouco sabe da universidade que ajuda a cimentar. Ele conta que os amigos do bairro Jardim Keralux, onde mora, vizinho ao campus, perguntam quando ‘serão as inscrições para a nova faculdade’. Não sabem nada de vestibular, diz Costa.

Entre os 90 funcionários não docentes que trabalharão no campus, cerca de 40 conseguiram transferência da Cidade Universitária porque moravam na zona leste. Foi acertada na semana passada a construção de uma estação da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), prevista para ficar pronta em 2006.

Enquanto isso, um transporte da USP vai levar alunos e funcionários para a estação mais próxima. Os pontos de ônibus são na Avenida Assis Ribeiro e, para chegar ao campus, é preciso atravessar a favela de Jardim Keralux. ‘Tudo por aqui é perigoso’, diz Massola. Um posto da Polícia Militar será instalado no local. De carro, a entrada é pelo km 17 da Ayrton Senna.

PROFESSORES

Foram selecionados 60 professores, todos doutores, para trabalhar na USP Leste. ‘Eram 65 vagas, mas cinco não puderam ser preenchidas por falta de qualificação dos candidatos’, diz Myriam Krasilchik, professora da Faculdade de Educação. Cerca de 800 profissionais se inscreveram para os processos seletivos. A maior concorrência foi para dar aulas no curso de Gestão Ambiental, em que 191 professores disputavam oito vagas. As seleções foram realizadas em novembro e dezembro e estavam ameaçadas pela greve que paralisou a USP por mais de um mês.

O governador Geraldo Alckmin e o prefeito José Serra devem participar da inauguração. Foram destinados R$ 48 milhões para a construção do campus, que terá cursos diferentes dos existentes na Cidade Universitária, como pede o estatuto. São eles: Arte e Tecnologia, Gestão Ambiental, Políticas Públicas, Lazer e Turismo, Marketing, Ciências da Atividade Física, Gerontologia, Obstetrícia, Ciências da Natureza e Sistemas de Informação. A USP foi criticada por não abrir vagas em Direito, Medicina, Engenharia. O argumento é o de que a maior universidade do País tem também o dever de inovar.