‘Nova polícia’ já beneficia 8 milhões em SP

O Estado de S. Paulo - 29/09/2003

seg, 29/09/2003 - 10h45 | Do Portal do Governo

Policiamento comunitário chega a 192 cidades, com elogios da PM e da comunidade

Renato Lombardi

Jaime está na Polícia Militar há quase 20 anos. Já trabalhou no Corpo de Bombeiros, passou pela Polícia Florestal e foi durante cinco anos do policiamento ostensivo. Hoje é um dos quase 14 mil policiais militares engajados no policiamento comunitário, que atua em 192 municípios do Estado.

‘Nosso trabalho é diferente do dos colegas do ostensivo. Andamos a pé e somos reconhecidos pela sociedade. Os moradores e os comerciantes confiam na gente e nos ajudam.’

O policiamento comunitário atende cerca de 8 milhões de pessoas no Estado.

Todos os dias, soldados, cabos, sargentos e oficiais lotados nas 23 bases da capital, nas 47 da Grande São Paulo e nas 117 do interior percorrem ruas e avenidas num autêntico corpo a corpo com a população.

‘O policial pára na banca de jornais, no açougue, na farmácia, no bar, na porta das casas, conversa com os comerciantes e moradores, fica sabendo o que está acontecendo e continua a ronda’, explica o subtenente Davi Monteiro da Conceição, um dos pioneiros desse tipo de ação na zona sul da capital.

O objetivo do comando da Polícia Militar é ampliar o número de bases. Todos os anos, militares deixam os cursos nas escolas da corporação em condições de ingressar no policiamento comunitário. Além dos 13.768 policiais envolvidos diretamente no trabalho, a PM tem outros 15 mil soldados, cabos, sargentos e oficiais prontos para assumir a função.

Jaime é da base comunitária do Jardim Ângela, zona sul, que já foi considerado um dos bairros mais violentos do País. ‘O começo foi difícil. As pessoas olhavam desconfiadas e nos recebiam como inimigos. Com o tempo, a comunidade passou a ser parceira.’

Josué Oliveira Santos, pernambucano de Afogados do Ingazeira, morador no Parque Santo Antônio, na zona sul, concorda com o PM. ‘Podemos ir e vir sem ser molestados, o que não acontecia antes.’ Envolvido no trabalho comunitário do bairro, ele diz que a sensação de bem-estar foi possível graças à prisão dos líderes do tráfico, ‘que exibiam suas armas livremente’, e dos autores de assassinatos. ‘Estão todos na cadeia.’ Santos afirma que, antes do policiamento comunitário, para encontrar um policial ‘era preciso telefonar’. ‘Hoje é só sair pelas ruas que a gente topa com eles.’

Satisfação – Uma pesquisa realizada pelo sociólogo Túlio Khan sobre a opinião dos PMs lotados em bases comunitárias revelou que eles estão satisfeitos. ‘Realizo meu trabalho com gosto’, responderam 72% dos entrevistados. ‘Tenho bom relacionamento com meus colegas’, disseram outros 88,5%. ‘O trabalho é reconhecido pelos meus superiores’, afirmaram 33,7%. Outros 61,1% acreditam que existe a possibilidade de progredir na carreira. Para 26,8% a instrução é de boa qualidade e a formação profissional, adequada.

A pesquisa fez ainda um apanhado dos problemas que o PM observa na comunidade, no dia-a-dia, e sobre os quais nada pode fazer: 62,4% responderam falta de limpeza nas ruas; 58,6% apontaram falta de iluminação e pavimentação e 49,4%, terrenos abandonados; 35,75% mencionaram mendigos e pedintes e 32%, crianças e adolescentes carentes.

Os policiais também falaram das tarefas que realizam a cada semana. Eles disseram gastar 20 horas no patrulhamento a pé, 16 horas no trabalho administrativo, 12 horas atendendo chamados de urgência, 10 horas em perseguições, prisões e encaminhamentos de casos para delegacias, 10 horas orientando pessoas da comunidade sobre prevenção ao crime, 9 horas analisando informações e dados sobre o crime na região e 7 trabalhando com jovens carentes.

Livro – Um livro contando as experiências do policiamento comunitário no Brasil foi lançado este ano pelas Corporações da Motorola Industrial, em parceria com a Secretaria Nacional de Segurança Pública, do Ministério da Justiça. Em 176 páginas, o livro analisa as experiências realizadas com sucesso no Espírito Santo e Amapá e em São Paulo.

No início do treinamento, os policiais estranhavam as novas normas, segundo o oficial da Polícia Militar de São Paulo Miguel Libório Neto, coordenador do Programa de Policiamento Comunitário Nacional no governo Fernando Henrique Cardoso e um dos primeiros a trabalhar em São Paulo com esse tipo de iniciativa. ‘Mas, no fim do curso, eles ficavam indignados por não terem aprendido antes.’ Para ele, o policiamento comunitário hoje é uma realidade, ‘apesar de ainda haver gente resistindo à idéia, achando que é um modismo.’