Nossa Caixa quer captar US$ 300 milhões com venda de ações

Valor Econômico - Quinta-feira, 06 de outubro de 2005

qui, 06/10/2005 - 16h24 | Do Portal do Governo

Maria Christina Carvalho
De São Paulo

SÃO PAULO – O Banco Nossa Caixa deu largada à abertura de capital, ontem, ao informar às instituições financeiras participantes da oferta que estima captar aproximadamente US$ 300 milhões – ou R$ 670 milhões – com a venda de 25% de suas ações ainda neste mês.

Será uma oferta secundária de 26,758 milhões de ações ordinárias que terão 100% de tag along, isto é, o direito de receber exatamente o valor obtido pelo controlador, o Estado de São Paulo, em uma eventual transferência de controle. Está prevista uma oferta adicional (green shoe) de 4,13 milhões de ações, ou 15%, dependendo da demanda.

Ainda hoje deverá ser divulgado o prospecto da venda, que vai fechar no final do mês. O período de reserva de ações começa na próxima quinta-feira, dia 13, e vai até o dia 25. A liquidação financeira da oferta está prevista para 1 de novembro.

Instituições presentes à apresentação consideraram que será uma das melhores ofertas de ações deste ano. ‘ Poderá chegar a R$ 1 bilhão ‘ , disse um participante

Um dos motivos é a escassez de alternativas para quem quer investir em ações do setor financeiro no mercado brasileiro. Na prática, somente as ações dos três maiores bancos privados – Bradesco, Itaú e Unibanco – têm liquidez. Banco do Brasil e Banespa têm poucas ações em circulação. Além disso, a Nossa Caixa abre o capital diretamente no Novo Mercado.

Há ainda o apelo de ser o 11 maior do mercado financeiro, com ativos totais de R$ 30,183 bilhões, lucro líquido de R$ 379,5 milhões no primeiro semestre e um retorno anualizado de 38,2% sobre o patrimônio líquido de R$ 2,1 bilhões no final de junho. Os negócios da Nossa Caixa estão concentrados em São Paulo, o mercado mais cobiçado pelos bancos.

Outro atrativo é a promessa de a Nossa Caixa receber, a partir de janeiro de 2007, as contas-salário de cerca de 650 mil funcionários públicos do Estado de São Paulo. A folha de salários desses funcionários era tradicionalmente paga no Banespa e continuou temporariamente no banco após a privatização como parte das condições de venda. Mas esse prazo termina no final de 2006.

O secretário da Fazenda, Eduardo Guardia, garantiu que as contas serão repassadas à Nossa Caixa após esse prazo. Os responsáveis pela oferta, no entanto, preferiram não incluir esse ponto entre os atrativos do banco. Ressaltaram porém acordo de exclusividade de manutenção por 15 anos de depósitos judiciais. Segundo o balanço do primeiro semestre, cerca de 75% dos depósitos totais de R$ 22,4 bilhões do banco são originários da poupança e judiciais – estáveis e de baixo custo (0,5% acima da TR).

Também garante o interesse o fato de o governo ter autorizado que estrangeiros detenham até 49% do capital do banco. Outro banco estatal, o BB, pode ter apenas 5,5% de capital estrangeiro.

A reunião da Nossa Caixa com o mercado estava marcada para segunda-feira e acabou adiada para ontem, aparentemente para que o decreto autorizando a participação estrangeira fosse publicado.

O Sindicato dos Bancários não gostou. ‘ Por essa ninguém esperava, não do Lula. Do (Geraldo) Alckmin se pode imaginar tudo, até porque este é um projeto que ele quer finalizar até o fim do seu mandato ‘ , disse a diretora do Sindicato, Raquel Kacelnikas, em nota divulgada no site da organização.

Em maio, a Nossa Caixa já havia vendido o controle da subsidiária de Seguros e Previdência para a espanhola Mapfre, que ficou com 51% e o banco, com os outros 49%.

O sentimento dos presentes à reunião é de que haverá interesse firme de investidores estrangeiros pelo novo papel.

Os organizadores da venda desejam que um mínimo de 10% da oferta e um máximo de 20% sejam canalizados para o varejo, que compreende vendas de R$ 2 mil a R$ 300 mil, com ênfase nas operações de pequena monta. Esse percentual inclui a participação de 5% que será vendida a funcionários da ativa e aposentados do banco, com desconto de 15%. Os 80% restantes serão canalizados para investidores qualificados, inclusive estrangeiros, que inclui fundos mútuos