Nossa Caixa planeja atuar no exterior

Gazeta Mercantil - Segunda-feira, 2 de agosto de 2004

seg, 02/08/2004 - 8h41 | Do Portal do Governo

Lúcia Rebouças

Entre os projetos, está o plano de montar uma base do banco em cada município paulista. Os projetos de expansão do Banco Nossa Caixa estão a todo o vapor. Um deles, inclusive, virou desafio pessoal do seu diretor presidente, Carlos Eduardo Monteiro: abrir uma agência no exterior e levar a Nossa Caixa para cada uma das 194 cidades do interior paulista. Com isso estará presente em todos os 645 municípios do Estado de São Paulo. Hoje, o banco atua em 451 municípios, a maior parte com correspondentes bancários – prestadores de serviços, como casas lotéricas.

O executivo não diz quanto o banco está investindo nos projetos – e nem dá números sobre o balanço do primeiro semestre que está sendo finalizado. Mas fala com satisfação do que vem sendo feito e da velocidade com que os projetos têm saído do papel.

Este ano, o banco já concluiu o projeto de modernização dos postos de autoatendimento – 240 lojas passaram a funcionar das 6 às 22 horas -, aumentou seu leque de produtos, está ampliando sua base de clientes e sua rede de agências e fazendo um grande investimento em TI ( tecnologia da informação). Além disso, pretende completar até o fechamento do ano sua reorganização societária.

Para 2005, está prevista a abertura do capital, no mais tardar no segundo semestre, e para o mais breve possível pretende instalar a agência no exterior. Monteiro não fala em tempo porque isso depende de vontade política: a Caixa é 99,9% do Governo do Estado e para criar uma nova subsidiária precisa de autorização da Assembléia de Legislativa de São Paulo.

O que cabe à Nossa Caixa, o projeto para a instalação da agência que irá à Assembléia, está em fase final. Falta definir o local. Duas cidades, Luxemburgo e Nova York, estão no páreo. Em Luxemburgo estão seis concorrentes da Caixa e em Nova York, três. Essa e outras condições – entre elas o custo de instalação e as demandas dos clientes – estão na balança que vai decidir para qual delas deve pender a escolha, de acordo com Monteiro.

As vantagens de atuar lá fora vão desde melhorar o rating até reduzir custos com pagamento de intermediários, porque a Caixa é o agente de captação do governo do Estado no exterior. Mas não é só isso. Monteiro conta que atuar diretamente lá fora faz parte da meta de incrementar sua atuação no comércio exterior e evitar a sazonalidade das linhas de crédito, causadas por intempéries diversas, como rumores de alta dos juros americanos e do risco Brasil.

‘Elas têm tido o efeito de secar as linhas de crédito para o Brasil e secam especialmente para nós que não temos participação lá fora. A manutenção dessas linhas é importante porque financiam a pequena e média empresa, que não conta com muitas fontes para isso’, afirma o presidente da Caixa.

Em defesa do projeto, Monteiro diz ainda: ‘No começo do ano a Nossa Caixa captou US$ 100 milhões de um total de US$ 1 bilhão, já autorizado pela assembléia legislativa paulista. Se tiver um veículo lá fora, melhora sua transparência e seu rating’.

Disputa por clientes

Para alargar a base de clientes, o banco tem um trunfo: termina em dezembro de 2007 o prazo dado pelo processo de privatização do Banespa, para que as contas da administração direta do Estado passem para a Nossa Caixa. Trata-se de um universo de 800 mil funcionários, fora as contas de pessoa jurídica.

Como o processo permitia que funcionários optassem por migrar antes do término do prazo, a Nossa Caixa pôs mãos-à-obra para trazê-los o quanto antes. Cerca de 400 mil já fizeram a passagem e, conforme Monteiro, o principal atrativo para a mudança foram os empréstimos com desconto em folha, com taxas de juros mais baixas que as dos concorrentes.

Segundo Monteiro, toda a administração indireta já migrou para o banco. Atualmente sua base de clientes é de 3,6 milhões pessoas físicas e jurídicas.

Ao contrário do movimento feito por outras instituições estatais, a Nossa Caixa pretende manter o perfil de seu atendimento aos clientes nas classes C e D, segundo seu presidente. Para a área corporativa, quer ser identificada como banco focado nas pequenas e médias empresas.

Para acompanhar a expansão da base de clientes, a Nossa Caixa vai abrir mais 200 agências – hoje tem 800, das quais 50% são lojas próprias e o restante, postos de atendimento. A expansão vai priorizar o interior do estado, onde estão concentrados 70% dos negócios do banco. ‘Queremos ser um banco regional’, afirma.

Mais crédito

Está nos planos da atual gestão da Nossa Caixa, uma ampliação em suas operações de crédito, hoje em R$ 3,5 bilhões. A meta é promover um crescimento de 85% ainda este ano. No primeiro semestre, o aumento foi compatível com a meta e com folga.

Para isso, dinheiro não é problema. O banco tem R$ 900 milhões em depósitos à vista, R$ 7 bilhões em depósitos a prazo – a maior parte em títulos públicos federais de alta liquidez – e R$ 7 bilhões em poupança.

Este ano, já incrementou as linhas para os micro e pequenos empresários por meio do Programa Crédito Empresarial. Também está colocando à disposição dos agricultores paulistas R$ 126 milhões para financiar o custeio e os investimentos da safra 2004/2005. No caso dos investimentos, serão financiados 80% do orçamento apresentado pelo produtor, limitado ao máximo de R$ 10 mil.

Outra linha de grande interesse é a do crédito à habitação. É um produto bom para o banco, não só devido ao seu alto potencial de fidelização de clientes, quanto porque está de acordo com seu perfil. Para propor soluções para o crédito imobiliário, Monteiro criou um grupo de trabalho, que conta a participação de todos os agentes envolvidos no processo habitacional, como o Sinduscom e o Secovi.

No processo de reorganização, estão sendo criadas seis novas subsidiárias – cartão de crédito, financeira, asset management, previdência, seguradora, capitalização. Está prevista a venda de até 51% do controle de cada uma, ficando apenas como sócio minoritário. Monteiro faz questão de deixar claro, porém, que na abertura de capital, o governo continuará com o controle do banco.