Nossa Caixa dá largada à privatização

O Estado de S. Paulo - Domingo, 27 de março de 2005

seg, 28/03/2005 - 9h55 | Do Portal do Governo

Primeiro será vendida a subsidiária de seguros de Vida e Previdência, depois será aberto o capital do banco do Estado de São Paulo

Carlos Franco

O controle da Nossa Caixa Seguros e Previdência vai a leilão às 10 horas do dia 24 de maio, na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). O preço mínimo é de R$ 154 milhões e as dez maiores instituições financeiras do País não poderão comprar essa carteira de seguros de vida e previdência para evitar concentração.

A regra está no edital, que exige ainda que o comprador tenha patrimônio mínimo de R$ 50 milhões e comprove a venda de R$ 200 milhões em seguros no ano passado.

Os interessados deverão passar por uma fase de pré-qualificação e terão de obter o aval da Superintendência de Seguros Privados (Susep) para fazerem ofertas no leilão, em envelopes fechados e acima do valor mínimo. Se houver empate, haverá viva-voz – levará quem fizer o maior lance.

Até outubro, o governo estadual pretende também pôr à venda ações ordinárias (com direito a voto) da Nossa Caixa. ‘A intenção não é privatizar completamente a Nossa Caixa, mas atrair investidores para o negócio, por meio da venda das ações excedentes ao exercício do controle’, explica o governador Geraldo Alckmin.

Em outras palavras, o governador está disposto a ofertar ao mercado até 49% das ações, mas estudos realizados até agora apontam para a venda, ainda este ano, de 25% das ações ordinárias.

Já a Nossa Caixa Seguros e Previdência, subsidiária do banco, diz Alckmin, será vendida para que esses recursos retornem à Nossa Caixa, contribuindo para o crescimento e fortalecimento no setor financeiro. ‘Será uma forma de, depois, realizar um leilão de ações ordinárias com maior êxito’, justifica o governador paulista.

Do total de 20 milhões de ações que constituem a Nossa Caixa Seguros, serão vendidas 10,2 milhões, que equivalem a cerca de 51% do capital. ‘Essa é uma forma moderna de atrair investimentos, inclusive capital estrangeiro’, acredita Alckmin.

O governador nega que esteja acelerando esse processo de privatização, quando cumpre o seu segundo mandato e entra na reta final, para fazer caixa para realizar obras. ‘Esse tipo de crítica não faz o menor sentido, pois o dinheiro da venda da Nossa Caixa Seguros e Previdência voltará integralmente ao banco, para reforçar sua posição.’

Quanto à venda de ações de controle do próprio banco, Alckmin garantiu que não ultrapassará os 51% em poder do Estado. ‘Se a intenção do meu governo fosse fazer caixa para obras, colocaria à venda integralmente a Nossa Caixa, mas isso nunca passou pela minha cabeça. O banco é um patrimônio do Estado, só que precisa de recursos novos para crescer e disputar num setor onde os investimentos em tecnologia são elevados’, disse o governador.

Para Alckmin, a matemática da privatização de subsidiárias da Nossa Caixa, como a carteira de Vida e Previdência, é muito simples. ‘Essa não é a atividade principal da Caixa, enquanto banco, mas é um serviço a mais aos clientes, que continuará a ser prestado, só que em parceria com outras instituições.’

Presente em todos os municípios do Estado de São Paulo, a Nossa Caixa encerrou o balanço do ano passado com lucro líquido de R$ 358,8 milhões, uma queda de 20,1% em relação a 2003, apesar do retorno de 18,15% sobre o patrimônio líquido. A instituição transferiu R$ 161 milhões ao governo estadual a título de juros sobre o capital.

A diretoria da Nossa Caixa justificou a queda no resultado de 2004 como decorrente da redução das taxas de juros no ano passado e de um programa de demissão voluntária em que foram dispensados 1,7 mil funcionários, que representou um gasto adicional de R$ 127 milhões.

Por outro lado, o banco ampliou a carteira de operações de crédito em 27,5%, que passou de R$ 3,82 bilhões para R$ 4,87 bilhões, aumento influenciado pela forte contratação de financiamentos no segmento pessoa física. ‘Esse desempenho está em linha com a estratégia da Nossa Caixa de expandir a base de clientes e consolidar sua posição no Estado de São Paulo como banco de varejo’, explicou, no balanço, o presidente da Nossa Caixa, Carlos Eduardo Monteiro.

O banco estadual fechou o ano com ativos totais de R$ 31,3 bilhões, 13,5% superiores aos de 2003, o que o fez figurar entre as dez maiores instituições financeiras do país, segundo o ranking elaborado pelo Banco Central para 2004. É para esse banco que o governo quer atrair sócios.