No Metrô, ‘Felipões’ fazem táticas em 101 segundos

Jornal da Tarde - Sexta-feira, 30 de julho de 2004

sex, 30/07/2004 - 9h28 | Do Portal do Governo

Intervalos entre trens e toda a dinâmica das composições passam pelas decisões do QG do Centro de Controle Operacional do Metrô, no Paraíso, uma sala dotada de monitores e equipamentos especiais

BRUNO TAVARES

Esqueça Wanderley Luxemburgo e Felipão. Na Sala Negra – o QG do Centro de Controle Operacional do Metrô -, no Paraíso, Zona Sul, os operadores têm apenas 101 segundos para traçar uma estratégia. E, mesmo a quilômetros de distância de seus comandados, não podem errar. Divididos em quatro turnos, os cerca de 40 profissionais deste departamento são responsáveis pela regularidade do intervalo entre as composições.

Para tomar decisões que podem abreviar ou prolongar o tempo de espera nas plataformas, os operadores têm a ajuda de um moderno computador. As informações chegam ao CCO por meio de sensores instalados nas linhas e nos trens.

O vaivém nos trilhos aparece em forma de gráfico, nos enormes monitores instalados na Sala Negra. ‘Daqui, regulamos os horários de todo o sistema’, explica Décio Tambelli, diretor de Operação da companhia.

Se uma composição fica parada na plataforma por mais tempo que o previsto, são os computadores e os operadores do CCO que compensam o atraso ao longo do percurso, freando ou acelerando os trens. Para se ter uma idéia da complexidade da operação, no horário de pico, há 43 composições circulando na Linha Azul, que liga o Jabaquara ao Tucuruvi. A Sala Negra – o local ganhou este apelido no passado, quando funcionava às escuras – também monitora o fluxo de passageiros nas estações. Quando estão lotadas, um operador pode solicitar uma composição extra.

Mas, então, qual o papel dos operadores dos trens? ‘Eles tomam as decisões no local, no momento do embarque e do desembarque. O trabalho deles é fundamental’, revela Tambelli, que fez a inspeção da via antes da viagem inaugural do Metrô, há quase 30 anos.

O operador Celso Kazuhiko Morita, 56 anos, conta que não há rotina à frente dos monitores da Sala Negra. ‘Se o trem pára um metro à frente do que deveria, já não é igual ao dia anterior. Além disso, temos de pensar duas vezes antes de apertar um botão’, comenta o funcionário. Ele conta que, em 1987, enfrentou um dos problemas mais sérios de sua carreira.

‘Houve uma falha de alimentação elétrica na Linha Azul e quase um terço dela foi atingida. Fomos obrigados a pensar numa estratégia para que as demais estações continuassem funcionando’, lembra. ‘ A gente se sente realizado quando tudo dá certo.’