No Arquivo do Estado, uma biblioteca ‘circulante’

O Estado de S. Paulo - Sexta-feira, 7 de novembro de 2003

sex, 07/11/2003 - 11h06 | Do Portal do Governo

Único na região, espaço vai atender moradores e alunos de 10 escolas próximas

Apaixonado por livros, o aposentado José Moreira, de 66 anos, não vai mais precisar devolvê-los às estantes, quando se apagarem as luzes da Biblioteca Pública Doutor João Antônio Fonseca, em Santana. Ele agora pode levar as obras para casa. Desde 21 de outubro, cerca de 3.600 volumes de um total de 30 mil estão disponíveis para empréstimos domiciliares. Três livros já estão com José Moreira, primeiro a fazer o cadastro no novo sistema. ‘Se pudesse, eu pegaria todos’, diz o aposentado, atualmente viajando pela história da Roma Antiga.

A biblioteca, localizada no prédio do Arquivo do Estado, será a única da região a funcionar de modo ‘circulante’, Vai atender, principalmente, os moradores dos bairros vizinhos e os alunos de dez escolas próximas. Entre as obras estão infanto-juvenis e didáticos, como os de ciências, artes e história, além de enciclopédias e clássicos da literatura universal e brasileira, como a coleção completa de Monteiro Lobato.

‘Em pouco tempo, pretendemos receber doações e aumentar o acervo para 15 mil títulos’, diz o diretor do Arquivo do Estado, Fausto Couto Sobrinho. A iniciativa de permitir empréstimos faz parte do programa São Paulo: um Estado de Leitores, da Secretaria da Cultura. Desde o começo do ano, o governo tem promovido ações para estimular o hábito de ler, incluindo a criação de salas de leitura em comunidades pobres e a capacitação de bibliotecários e agentes de ensino. No fim de outubro, 10 mil livros foram distribuídos, sendo parte reservada a moradores de rua e prostitutas.

Com o objetivo de disponibilizar cada vez mais livros para a população, a secretaria quer instalar bibliotecas públicas em todos os municípios do Estado. Atualmente, 65 não têm esse espaço. ‘Livro foi feito para ser lido, mesmo que estrague’, ressalta a secretária de Cultura, Cláudia Costin. ‘O importante é que seu conteúdo fique preservado dentro de cada leitor.’ Ela alerta para o fato de o brasileiro ler muito pouco: em média, 1,8 livro por ano. Em países como a França, as pessoas lêem pelo menos sete.

Segundo Élvia Jordão, diretora da Biblioteca João Antônio Fonseca, a hipótese de se perder livros, mesmo com a assinatura de um termo de responsabilidade, foi cogitada. ‘Trabalhamos com uma margem de perda de 10% e, por isso, muitos livros têm duplicatas.’ Obras raras e dicionários não entraram no acervo circulante. ‘Mas o leitor poderá continuar consultando-os aqui, com todo o conforto’, diz a diretora, referindo-se às poltronas e ao atendimento de bibliotecários e historiadores.

Sapateiro – No espaço do Arquivo do Estado, existe outra biblioteca, maior e mais especializada – onde estão disponíveis para consulta local cerca de 50 mil títulos e documentos. Uma das raridades é o inventário de um sapateiro, datado de 1578. Para cadastrar-se no setor circulante, basta levar carteira de identidade, foto 3×4 e comprovante de residência. O horário de funcionamento é das 9 às 17 horas, de terça-feira a domingo. É permitido retirar até três livros por vez, pelo período de 15 dias.