Ninguém desistiu da Escola da Juventude

Jornal da Tarde - Domingo, 28 de agosto de 2005

seg, 29/08/2005 - 10h22 | Do Portal do Governo

DANIELA TÓFOLI

O supletivo de fim de semana da rede estadual, lançado no começo do ano com 18.768 alunos inscritos, chega ao fim do primeiro módulo sem nenhuma evasão. O horário alternativo, segundo a coordenadora do Centro de Estudos e Normas Pedagógicas da secretaria, é o segredo do sucesso

Nenhuma desistência. O programa Escola da Juventude, um supletivo de ensino médio com aulas aos sábados e domingos lançado pelo governo estadual no início do ano, chega ao fim do seu primeiro módulo sem contabilizar nenhuma abstenção. Os dados são da Secretaria de Estado da Educação, levantados a pedido do JT. Os 18.768 alunos do projeto farão as provas finais no próximo sábado e, quem for aprovado, passa para a segunda etapa.

Nesses seis primeiros meses, os jovens estudaram os conteúdos de português, literatura, inglês e educação artística relativos aos três anos do ensino médio. No próximo módulo, terão as disciplinas de física, química, biologia e matemática e, no ano que vem, de história, geografia e filosofia. Quem chegar ao fim das três etapas, receberá o diploma e estará apto a prestar vestibular.

Os que repetirem alguma, terão de refazê-la. ‘Mas o aluno não freqüentará o mesmo curso. Vamos oferecer alternativas e ensinar de outras maneiras porque a mera repetição não fará com que ele aprenda’, explica a coordenadora do Centro de Estudos e Normas Pedagógicas da secretaria estadual, Sônia Silva.

Mesmo aqueles que já cursaram alguma série do ensino médio têm de fazer todos os módulos. ‘Não damos diplomas por séries, só pelo ensino médio completo’, afirma Sônia. ‘Isto porque o conteúdo é diferenciado e, além das matérias tradicionais, os estudantes participam do projeto de inclusão digital.’

O Escola da Juventude teve início em março com 300 colégios de todo Estado. A região da Capital com maior procura foi a Zona Leste e, no Interior, Campinas. ‘Com base nas matrículas da primeira etapa, vamos aumentar ou reduzir o número de escolas em cada região’, diz a coordenadora. ‘Queremos atender toda a demanda da melhor forma possível, fazer com que os jovens interessados possam estudar bem perto de suas casas.’

Quem já está no projeto deverá fazer a rematrícula para confirmar o interesse na vaga. Já os interessados em iniciar o curso podem fazer a inscrição até 10 de outubro em uma das escolas participantes (veja ao lado). Esta turma terá aulas até o fim de 2006. Para se inscrever, é preciso ter o ensino fundamental completo e, de preferência, entre 18 e 29 anos. A Secretaria de Educação não conseguiu informar qual a faixa etária média dos estudantes nem qual o sexo predominante na primeira etapa.

Para Sônia, o fato de ninguém ter abandonado o curso se deve a sua flexibilidade. ‘As aulas presenciais ocorrem apenas aos fins de semana. Não tem desculpa para não conseguir acompanhar’, afirma. ‘Também ajuda o fato de todo o material ser gratuito e de os estudantes terem contato direto com o computador. Eles ficam fascinados.’
Auxiliar de serviços de copa, Cleide Simeão, 59 anos, nem pisca diante da tela do computador e vibra ao contar que agora já sabe usá-lo. Ela não está na faixa etária preferencial, mas é uma das alunas que estão terminando o primeiro módulo e, para não fazer feio, estuda duro para a prova final. ‘Trago o material para o meu trabalho e, quando tenho um intervalo, abro o livro’, conta. ‘Quero me formar e, quem sabe, fazer uma faculdade. Nunca é tarde.’

Cleide parou de estudar na quinta série quando era criança porque teve de trabalhar e ajudar a família. Acabou casando cedo e tendo três filhos. ‘Eu sempre tentava voltar para a escola, mas só terminei o ensino fundamental no ano retrasado, fazendo um supletivo normal.’ As aulas diárias durante à noite, no entanto, acabaram se tornando um empecilho. ‘Não deu para continuar porque estava muito difícil. Saía tarde do trabalho e não conseguia chegar a tempo.’

Quando soube do supletivo de fim de semana, Cleide encontrou a sua chance. ‘O horário é excelente e estou adorando as aulas. Gosto de conhecer informática e literatura’, conta. ‘Nunca tinha ouvido falar no barroco nem no arcadismo e agora não vejo a hora de ler algum livro desses períodos.’

Além de passar de módulo, ela tem outra missão: convencer a filha a terminar o ensino médio. ‘Ela parou de estudar faz tempo e também não conseguia fazer o supletivo à noite’, afirma. ‘Agora, não tem motivo para ficar sem diploma. Eu insisto porque queria que ela tivesse um futuro melhor. É importante estudar e ela tem o meu exemplo.’