Nelson Freire inaugura novo piano do auditório

O Estado de S.Paulo - Sexta-feira, 18 de julho de 2008

sex, 18/07/2008 - 10h33 | Do Portal do Governo

O Estado de S.Paulo

Nelson Freire não vê a hora de voltar a ser José Pinto. ”Assim que eu chego a Boa Esperança, minha cidadezinha natal, eu deixo o Nelson de lado e por um pouco que seja volto a ser José Pinto”, ele brinca na conversa com o Estado. ”Faz muito tempo que não volto para lá. Na verdade, não faz tanto tempo assim, acho que uns três ou quatro anos. Mas, para mim, já é tempo demais longe”, diz.

Isso tudo é para dizer que, primeiro, o pianista brasileiro de maior carreira internacional está de volta ao Brasil para descansar; em segundo lugar, apresenta-se amanhã no Auditório Claudio Santoro, em Campos do Jordão. Mas, ele não estava em férias? ”Sim, mas acabo aceitando os concertos. Depois de Campos, tenho apresentações em Porto Alegre e, em seguida, uma turnê por Argentina e Uruguai com a Orquestra Jovem das Américas. Aí chega.”

Freire vem de duas apresentações importantes na França. Gravou para a televisão o Concerto Imperador, de Beethoven, com a Orquestra de Lille e o maestro Jean-Claude Casadesus; interpretou a mesma obra na semana passada com a Orquestra Nacional da França na série de despedida do maestro Kurt Masur. Antes, gravou um disco dedicado aos prelúdios de Debussy. Em Campos, mudou esta semana o programa de sua apresentação, que agora tem Mozart (Sonata em Lá Maior KV331), Beethoven (Sonata op. 110), Liszt (Soneto de Petrarca nº 104), dois prelúdios de Debussy e Chopin (Sonata em Si Menor Op.58). ”É o programa que tenho feito nesta temporada na Europa. Não há uma grande explicação por trás das obras e compositores escolhidos. São apenas peças que adoro tocar.”

Freire vai inaugurar o novo piano adquirido pelo Centro Tom Jobim com recursos da Cesp, por meio de lei de incentivo. Foi ele mesmo que escolheu o instrumento na Alemanha, na loja da Steinway. Quem viu o documentário de João Moreira Salles sobre o pianista lembra-se, com certeza, da cena em que ele se ”desentende” com o piano da Sala São Paulo. ”Ele não gosta de mim”, dizia Freire. Imagina ele, então, numa sala repleta de pianos, tendo de escolher um deles… ”Nem me fale. Eu não gosto de fazer isso, não, reluto muito antes de aceitar. A indecisão é uma característica da minha personalidade, deve ser coisa do signo ou algo assim. Às vezes, chego em um teatro e me avisam que há dois ou três pianos na casa para eu escolher. Fico desesperado, mando logo eles escolherem o melhor e colocar no palco. Mas, enfim, fui lá escolher. No começo havia sete pianos, mas pedi para eles separarem os quatro melhores de uma vez, assim ficava mais fácil. É uma enorme responsabilidade escolher um piano e é importante ter em mente o uso que vão fazer dele. Neste caso, ele vai servir para música de câmara, concertos, enfim, precisa ser um piano preparado para isso. E, claro, como eu vou estreá-lo, é do meu interesse também que seja o melhor piano possível.”