Na vida de pai e filho, o nascimento da USP

Jornal da Tarde - São Paulo - Sexta-feira, 25 de fevereiro de 2005

sex, 25/02/2005 - 10h16 | Do Portal do Governo

O médico Paulo Sawaya viu a Cidade Universitária, no Butantã, nascer e crescer. Hoje, seu filho, Sylvio, participa do surgimento do campus da Zona Leste. E aposta no desenvolvimento da região

BRUNO TAVARES

O pai, Paulo Sawaya, viu o campus Butantã da USP nascer. O que hoje é a Cidade Universitária, nos idos de 1950 não passava de uma velha fazenda longe do Centro. O lugar – e também o entorno – cresceu e se consolidou como um dos maiores centros universitários da América Latina. Agora, a história se repete. Sylvio Barros Sawaya, o filho, participa do surgimento do campus da Zona Leste – assim como o primeiro, ainda um lugar distante e pouco urbanizado.

Alguns dos pontos comuns entre os dois campus são nítidos. Tanto a USP Leste quanto a Cidade Universitária estão às margens de rios importantes – Tietê e Pinheiros, respectivamente. E ao lado de áreas carentes. No Butantã, boa parte da vizinhança é formada pela Favela San Remo. A unidade Leste, por sua vez, está sendo erguida ao lado do loteamento irregular do Jardim Keralux, na divisa de Ermelino Matarazzo com Guarulhos.

Mas, para Sylvio Sawaya, professor-titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo FAU da USP e membro da comissão central do projeto USP Leste, as semelhanças param por aí. ‘Na comparação com o nascimento da Cidade Universitária, o campus Leste está melhor estruturado’, avalia. A opinião do arquiteto é baseada nas inúmeras histórias contadas pelo pai, o médico Paulo Sawaya. Em meados de 1954, ele fez parte do segundo grupo de docentes da USP a se instalar na então inóspita Cidade Universitária.

‘Para chegar lá, meu pai tomava um bonde na Avenida Dr. Arnaldo e descia depois da ponte sobre o Rio Pinheiros. O restante do caminho era percorrido de charrete’, conta Sylvio. Quando os primeiros ônibus começaram a fazer o itinerário até o campus, o problema era cruzar as ruas de terra. ‘Ele cansou de empurrar ônibus atolado na lama’, completa o filho.

Na época, a idéia de montar um campus que centralizasse todas as faculdades e institutos especializados da USP foi recebida com espanto. Também havia divergências quanto à escolha do local. Horto Florestal, na Cantareira, a gleba onde hoje está o Hospital das Clínicas e outros diversos sítios foram apontados e vetados. A opção pela fazenda Butantã foi aprovada em 1937, mas a construção do campus só começou em 1941.

De volta a 2005, Sylvio Sawaya reconhece as dificuldades de acesso à USP Leste. Os trens ainda não são modernos, a Ayrton Senna é praticamente o único acesso rodoviário à região, mas, segundo o arquiteto, esse cenário vai mudar em poucos anos. ‘Quando o grupo de estudos saiu para procurar terrenos na Zona Leste, em 2002, todos sabiam que aquilo era tão histórico quanto a própria fundação USP. Agora, queremos que esse espírito também tome conta dos alunos’, diz o arquiteto.