Na USP, um templo da arte contemporânea

O Estado de S. Paulo - Estadão Oeste - São Paulo - Sexta-feira, 22 de outubro de 2004

sex, 22/10/2004 - 9h49 | Do Portal do Governo

Em tempos de Bienal, Paço abriga até 10 de outubro a Temporada de Projetos, com 5 mostras

IGOR GIANNASI

Quem quer conhecer um pouco mais da produção artística atual não tem apenas a 26.ª edição da Bienal de São Paulo, que começa amanhã no Parque do Ibirapuera, na zona sul, como opção. Na região, trabalhos de artistas nacionais e internacionais podem ser apreciados no Paço das Artes, localizado na Cidade Universitária. ‘É o único espaço que constantemente tem uma programação de arte contemporânea’, afirma a produtora de exposições internacionais e temáticas, Ângela Santos.

O Paço abriga, até 10 de outubro, a Temporada de Projetos 2004, com cinco mostras individuais e uma curadoria, que pretendem refletir sobre o papel do artista na produção contemporânea de pintura, fotografia, escultura e vídeo.

A cada dois anos, artistas e curadores iniciantes são selecionados para integrar o programa, assim como são convidados outros já consagrados.

‘Quando ocorre o processo, o júri tem a preocupação de agrupar artistas que tenham um assunto em comum’, conta Ângela.

O artista Thiago Bortolozzo, de Campinas, foi selecionado para a temporada e também participa da Bienal. No Paço, ele expõe a obra Rock: rampa, concebida especialmente para o local. ‘O trabalho dele sempre dialoga com a precariedade de materiais e o espaço arquitetônico’, explica Ângela. Semelhante às rampas de skatistas, o público pode subir em cima dela.

A escultura de Bortolozzo exemplifica bem o conceito da arte contemporânea.

‘Não é só o olhar, muitas vezes as pessoas interagem com a obra’, afirma a coordenadora-geral, Marília Mazzucchelli. A diferença em relação à arte vista nos museus é quanto ao uso de diversas mídias como suporte para a expressão, principalmente meios tecnológicos. ‘Às vezes, as pessoas ficam receosas, mas acho que é um tipo de arte mais presente no cotidiano delas.

Todo mundo tem um DVD, um game, um computador, um palm ou um celular’, comenta Ângela.

A curadoria do recifense Ricardo Ramalho, selecionado para a temporada, apresenta seis artistas para discutir a contraposição entre a fotografia e a pintura. Para mostrar a concepção dele do tema, escolheu obras de Alex Fleming, Eduardo Verderame, Eduardo Srur, Daniel Lima, Luciana Costa e Manoel Veiga. As inscrições para a seleção da Temporada de Projetos 2005-2006 podem ser feitas até 5 de novembro. Mais informações no site www.pacodasartes.sp.gov.br.

Destacam-se também as exposições individuais de artistas convidados. Direto do Rio, Katia Maciel trouxe a instalação que classifica como transcinema: uma imagem pensada para gerar uma nova construção do espaço. Niura Bellavinha, de Belo Horizonte, utiliza a projeção da área verde da parte externa do prédio como parte da instalação.

Ainda no campo da imagem em movimento, o artista sul-africano William Kentridge mostra uma vídeo-projeção sobre a política e a cultura do país dele. Já na escultura, o artista paraense Claudio Cretti ocupou parte do chão do Paço das Artes com peças de mármore, algumas em estado bruto e outras polidas, contrastando a natureza e a cultura.

Espaço expositivo – O Paço das Artes não pode ser chamado de museu, pois não tem acervo, só espaço expositivo. Mas além das mostras, o lugar realiza oficinas e publica livros de arte. Criado em 1970, no início o espaço ficava no Museu da Imagem e do Som (MIS). Há dez anos, foi transferido para a Cidade Universitária. Ao contrário do que possa parecer, o órgão é ligado à Secretaria Estadual de Cultura e não à Universidade de São Paulo.

O prédio foi projetado pelo arquiteto Jorge Wilheim, atual secretário municipal de Planejamento e iria abrigar um grande centro cultural, com oficinas, teatro e cinema. A obra, porém, não foi totalmente concluída e a idéia inicial do espaço cultural acabou abandonada. O prédio onde agora funciona o Paço teria um terceiro piso, que não foi construído e o subsolo não foi completado. Uma outra edificação foi apenas começada.

Marília conta que em 25 de janeiro, o governador Geraldo Alckmin assinou um termo de compromisso para transferir essa área abandonada para a USP, onde seria instalada a Edusp. Em contrapartida, a universidade iria terminar as obras do subsolo. A proposta ainda está em processo de avaliação.