Crianças agitavam os braços imitando o maestro John Nelson enquanto uma multidão silenciosa acompanhava uma das mais aguardadas apresentações da Virada Cultural: em palco montado entre a Pinacoteca e a Estação da Luz, a Osesp tocou Schumann e interagiu com a São Paulo Cia. de Dança.
O programa teve um desenho preciso, dividido afetivamente em dois momentos: um dramático (da abertura “Manfred” ao terceiro movimento da “Sinfonia nº2” de Schumann) e outro exaltado (que abarcou o “finale” da sinfonia e o “pas-de-deux” de Tchaikovsky).
Nelson já estava à vontade no concerto de quinta passada, na Sala São Paulo, e ontem regeu como se a orquestra fosse sua.
“Manfred”, poema de Lord Byron, inspirou obras-chave de Schumann (1810-1856) e Tchaikovsky (1840-1893). O “pas-de-deux”, porém, cuja música fora concebida para o “O Lago dos Cisnes” – mas que permaneceu esquecida por anos -, segue a euforia com que Schumann conclui a sinfonia.
Coreografado por George Balanchine (1904-1983), foi interpretado por um casal de bailarinos da São Paulo Cia. de Dança. Cada trecho foi aplaudido de pé pelo público: saltos e giros angulosos (homem), movimentos curtos e minuciosos (mulher), até o espetacular enlace final.
A Osesp trouxe à praça aquilo que melhor faz na Sala São Paulo, sem concessões. E não teve medo de escolher o centro de São Paulo -aberto, desprotegido- para iniciar a parceria com a SP Cia. de Dança. Mostrou a cara a um público diferente, mais jovem do que o habitual. E o mais importante: tocou com alegria, estava dentro do evento, o que, tanto para nós quanto para ela, talvez tenha sido a maior virada.