Na agricultura, clonagem já é uma prática de 30 anos

Jornal da Tarde - São Paulo - Quinta-feira, 11 de novembro de 2004

qui, 11/11/2004 - 9h31 | Do Portal do Governo

Cientistas de universidades e empresas do País trabalham diariamente na clonagem de alimentos. Esalq de Piracicaba iniciou processo em 1971

ALESSANDRO GRECO

Todos os dias, no Brasil, cientistas em mais de 50 laboratórios de universidades e empresas privadas pegam frutas, como banana, uva, morango, laranja, além de cana-de-açúcar e plantas ornamentais, como violetas e orquídeas, e clonam. Sim, tiram pedaços de uma banana, por exemplo, e criam milhares de bananinhas idênticas a ela, pequenos clones, vendendo-os aos produtores.

Tudo por um produto melhor, mais saboroso, mais resistente a pragas, mais adequado ao clima. Mas, surpreendentemente, pouca gente sabe que fazer clones na agricultura, no Brasil, é uma atividade que tem mais de 30 anos.

Um dos introdutores no País da técnica foi o hoje professor aposentado Otto Crocomo, da Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz (Esalq) de Piracicaba, da Universidade de São Paulo. ‘Começamos em 1971 com a samambaia’, conta ele, que fundou e dirigiu por 11 anos o Centro de Biotecnologia Agrícola (Cebtec).

A clonagem em plantas ajudou a salvar o eucalipto na década de 70, quando o cancro dizimou a plantação dessa árvore no Espírito Santo e se espalhava por outros Estados. ‘A única opção rápida foi fazer clones dos mais resistentes e que não haviam sido destruídos’, diz o professor da Esalq Antônio Natal Gonçalves, ex-aluno de doutorado de Crocomo e que trabalha na área desde 1972.

O grupo de Crocomo criou 252 clones diferentes de eucaliptos para a Duratex, do grupo Itaúsa. Já o Cebtec fez, por exemplo, 3 milhões de clones de morango no total. No caso da cana-de-açúcar, a multiplicação é via clones. ‘Toda a multiplicação da cana comercial no Brasil é feita assim’, diz o engenheiro agrônomo Paulo Leite, diretor-presidente da Canavialis que, entre outras atividades, produz mudas, livres de doenças comuns, e as vende a agricultores.

Natureza também fabrica seus clones

Há casos em que a própria natureza, sem ajuda do homem, faz clones, como ocorre com espécies do cerrado e da mata atlântica. ‘Ipês e jequitibás, de modo geral, são clones’, afirma o professor da Esalq Antônio Natal Gonçalves. Recentemente ele fez um projeto com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) de clonagem da Cryptomeria japonica, conhecida popularmente como o pinheirinho de Natal.

E outras espécies deverão começar a ser estudadas e clonadas por ele em breve, em colaboração com a pesquisadora Luciana Di Ciero, do laboratório de recursos genéticos e biotecnologia florestal da Esalq, e a Fapesp. Uma delas é a babosa.

‘Ela é interessante para a agricultura familiar, pois precisa de pouco espaço, 5 mil m2, para ser economicamente viável’, afirma Luciana.

A sala de crescimento tem milhares de mudas em potes de vidro. São todas clones.