Música urbana

Jornal da Tarde

ter, 26/05/2009 - 9h16 | Do Portal do Governo

São Paulo está descobrindo que, como em outros países, pode ter música em terminais de ônibus, metrô e trem. O som já está rolando

Se São Paulo fosse uma orquestra, o maestro seria demitido por embriaguez. O som das nossas ruas é um burburinho de pedestres apressados, ambulantes histéricos e motoristas raivosos . Essa barulheira é a cereja no bolo do cidadão estressado – daquele sujeito que, às 18 horas, tenta voltar para o aconchego do lar, depois de uma jornada exaustiva de trabalho. Como se vê, a cidade precisa trocar de estação, mudar de ritmo e escolher uma trilha sonora mais acolhedora.

A boa notícia é que, mesmo de forma tímida, São Paulo começou a abrir seus ouvidos para novas possibilidades. Já não é tão improvável ser surpreendido por boa música em locais agitados, comas estações de metrô, terminais de ônibus ou trens. Existem projetos como o Som Jovem, realizado pela Coordenadoria da Juventude, que tem levado bandas de rock, samba e jazz para os terminais da SPTrans e da EMTU; o Encontros, responsável por shows e apresentações de dança na Estação Santa Cecília do Metrô; e o Música na CPTM, uma parceria da CPTM com a prefeitura de Ribeirão Pires, que promove apresentações da Escola Municipal de Música Alfredo Della Rica.

Com essas três iniciativas, São Paulo começa a se aproximar de cidades como Nova York e Paris, reconhecidas por abrigar, incentivar e até organizar músicos e outros artistas em suas estações de metrô. “A música é uma ocupação nobre e inteligente de nosso transporte público. É uma forma simples e eficaz de mostrar nossa identidade cultural. Mais do que isso, melhora o clima e o astral da cidade”, afirma o presidente da SPTuris, Caio Luiz de Carvalho.

Apesar do entusiasmo de Carvalho, esse tipo de ‘ocupação’ sempre sofreu restrições e empecilhos. “O Metrô daqui mantém uma visão conservadora em relação à utilização do seu espaço para esse tipo de apresentação. Já tivemos eventos musicais desmarcados dentro do metrô durante Viradas Culturais de anos anteriores. Mas, aos poucos, estamos chegando a um ponto de entendimento, estamos começando a organizar essa ocupação artística, com programação de qualidade e alguma ordem”, diz José Mauro Gnaspini, curador da Virada Cultural.

Já o chefe do Departamento de Marketing Corporativo do Metrô, Aloísio Gibson, diz que a companhia sempre incentivou a ocupação artística do seu espaço. “É que a gente tem um cuidado com a segurança do usuário, evitamos aglomerações…” Gibson ressalta que a proposta do Metrô para os músicos é diferente daquela adotada por outros países. “Nós não permitimos que as pessoas toquem em troca de dinheiro ou que ocupem indiscriminadamente os vagões. O Metrô trabalha com uma programação, com músicos de qualidade e em locais predeterminados. Temos até um projeto para músicos amadores, mas ainda estamos em estudo”, completa.

O Metrô e a SPTrans proíbem apresentações espontâneas em seus veículos. Normalmente, o músico que ‘saca’ seu violão dentro de um transporte público recebe o mesmo tratamento de quem está pedindo esmola ou vendendo bugigangas. Para ajudar a disciplinar essa ocupação, a coordenadoria municipal da Juventude vem organizando um cadastro de bandas e músicos. “Com essa relação, uma subprefeitura tem como saber que banda pode contratar para tocar em sua praça, terminal de ônibus ou evento. O projeto Som Jovem é uma forma de trazer esses artistas para perto do público e também do poder público. Existe um grande número de jovens que precisam sair da garagem e ganhar reconhecimento. O terminal é um espaço democrático”, comenta o responsável pela Coordenadoria da Juventude, Rafael Parra Castilho.

Na última sexta, a reportagem do Jornal da Tarde acompanhou a apresentação da banda 5Prastantas no Terminal Jabaquara, em pleno horário de pico, às 18 horas. O estranhamento inicial dos pedestres não durou mais do que cinco minutos. Motoristas de ônibus, passageiros, comerciantes e até moradores de rua caíram no rock. O que mais se ouvia por lá era gente satisfeita, dizendo coisas como “vou para casa mais relaxado”, “isso deveria acontecer mais vezes”. Durante uma hora de apresentação, quase ninguém reparou na sinfonia caótica de São Paulo.

Edvar José de Oliveira, 52
Desempregado
“Me emocionei. Hoje, estou aqui sem emprego, nas ruas, mas já fui músico, já toquei no Olodum. Faz muito tempo que não assisto a uma apresentação. É de graça. Eu posso ver e ainda me lembrar do meu tempo de músico.”

Andrea Laurendo, 29
Estudante
” Estou indo para a faculdade, tenho de enfrentar mais de uma hora de ônibus e trânsito. Acompanhar esse show, ouvir essa música, vai me deixar mais relaxada e bem-humorada. Deveria acontecer todos os dias.”

Rosália Maria Oliveira, 46
Dona de casa
“Olha, acabei de voltar do supermercado e parei para ouvir o show. Meu hambúrguer já descongelou, está pingando… Mas eu sou do rock, não resisto a ele e fico com vontade de dançar. Isso encheu de alegria meu dia.”

Como é em outros países

Nova York/EUA
O metrô de Nova York promove festivais de verão em suas estações. No verão, por exemplo, acontece o projeto ‘Music Under New York’ (Música Sob Nova York). Na programação, músicos tocam guitarra, violinos, saxofones e até baldes de plástico.

Paris/França
Desde 1997, existe uma estrutura de apoio aos músicos no metrô de Paris. Os artistas interessados em tocar nas estações são obrigados a se inscreverem a cada primavera e outono. Existem audições para selecionar os melhores músicos.

Londres/Inglaterra

Muitas estações de Londres têm um espaço reservado para músicos. A organização é impressionante: eles são cadastrados (precisam portar crachás) e tocam em locais e horários predeterminados. E o apoio vai além: todos são autorizados a passar o chapéu.

Porto/Portugal

Embora não tenha um programa que regulamente os seus músicos, o metrô do Porto promove shows e semanas especiais de música em suas dependências. Pode apostar que, em qualquer feriado municipal ou federal, a música estará presente nas estações.

Divirta-se

Projeto Som Jovem
Comanche Rock Fúria
Quinta-feira
A partir das 18 h
Terminal Metropolitano São Mateus Endereço: Av. Adélia Chohfi, n.º 100

Projeto Som Jovem
Duo Jazz Guitar
Sexta-feira
A partir das 18h
Terminal da Lapa
Rua Guaicurus, s/n

Projeto Encontros
Samba e Zouk
Quarta, dia 3 de junho
Horário: 18h
Estação Santa Cecília do Metrô

Projeto Música na CPTM
Alunos da Escola Municipal de Música Alfredo Della Rica
Hoje
Estação Ribeirão Pires, na Linha 10
Horário: 11h

PS: todos os eventos são gratuitos