Museu vai para a rua

Folha de S. Paulo - Quarta-feira, 13 de julho de 2005

qua, 13/07/2005 - 9h31 | Do Portal do Governo

GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

Formada em história pela USP, Gabriela Aidar mudou-se para a Inglaterra, estudou museologia e deixou-se seduzir por projetos de disseminação dos acervos culturais no cotidiano das cidades. ‘Percebi que meu futuro estava mesmo nos museus.’ Deixou no passado seu curso de história.

Desde então, nada lhe pareceu tão efervescente como uma experiência em que está envolvida em São Paulo. Gabriela faz parte de uma equipe que vai ajudar pessoas a transformar os acervos da Pinacoteca do Estado de São Paulo em algo concreto. Catadoras de papel, por exemplo, vão se inspirar em quadros, desenhos e esculturas para produzir, com detalhes artísticos, colchas, almofadas, mantas, copos, travesseiros etc. Poderão, assim, deixar suas casas mais belas.

O projeto nasceu quando uma entidade de arte-educação (o Impaes) procurou a Pinacoteca do Estado, onde já existe um departamento de educação, com a proposta de transformar seus acervos em fonte de inspiração para os mais diversos grupos da cidade de São Paulo. ‘Estamos quebrando os muros do museu’, resume o museólogo Marcelo Araújo (ex-professor de Gabriela na USP), diretor da Pinacoteca.

Nessa primeira fase, coordenada por Gabriela, foram capacitados monitores, que, nos próximos meses, vão guiar pelos corredores e salões da Pinacoteca, além das catadoras de papel, cujo projeto se chama Objetos de Desejo, adolescentes interessados em discutir a questão da sexualidade. Esses adolescentes freqüentarão oficinas a serem desenvolvidas com base em obras que mostram detalhes do corpo humano, numa experiência intitulada Leituras Poéticas da Sexualidade. Crianças e jovens estão mais interessados na produção de roupas ou em montar, na zona norte, um museu comunitário com a história de um bairro da região, a Vila Albertina.

Misturam-se aulas teóricas com oficinas. Dessa mistura a obra coletiva que surge é um museu de rua. Os acervos passam a auxiliar as pessoas, por meio da arte, a escrever sua história. Sem saber, Gabriela iria descobrir que, num museu, estaria seu melhor lugar não só para aprender mas para ajudar a fazer história.