Muito Além do Ensino Tradicional

ValeParaibano - 10/5/2002

sex, 10/05/2002 - 12h18 | Do Portal do Governo

Construção, resgate, amor. Palavras fortes, mágicas e repletas de significados. Juntas, elas compõem o roteiro que norteia a multiplicidade de trabalhos que envolve o setor educacional em toda a sua extensão. A sala de aula funciona como a mola propulsora dessa engrenagem complexa e fascinante que é o ato de ensinar, de transmitir o saber.

O conceito de educar é muito maior do que simplesmente ministrar as disciplinas tradicionais do currículo escolar. Educar é preparar para a vida, para o trabalho e para os inúmeros desafios que compõem a trajetória humana, incluída nesse processo a transmissão das disciplinas tradicionais.

Por isso, não estamos dizendo que a aplicação das disciplinas existentes no currículo deva ser negligenciada. Pelo contrário, elas são parte integrante do processo de aprendizado e extremamente necessárias à vida do aprendiz. Apenas alertamos para o modo como esse conhecimento precisa ser conduzido na escola. A missão do professor é instigar a curiosidade e a sede de saber de seus alunos. Nesse sentido, tem de tecer correlações entre essas disciplinas e a realidade do estudante. Tem de levá-los ao questionamento, à dúvida, à reflexão. De nada adianta o aluno decorar fórmulas e datas. É necessário ensinar de forma sedutora.

Em vez de exigir um conhecimento memorizado e vazio, por que não propiciar ao educando a possibilidade de fazer uma análise viva dos fatos? Por que não usar mais os jornais diários em sala de aula? Por que não visitar mais os museus e os centros históricos das cidades? Por que não inovar dando uma aula no pátio ou nas redondezas da escola? Por que não visitar os parques e observar a manifestação da natureza in loco, como faziam os filósofos gregos? Por que não usar sucata para falar de física e química?

Por que não ir ao teatro ou mesmo incentivar a encenação de peças na própria escola? São atividades simples e que garantem a aprendizagem significativa, ou seja, aquela que o aluno entende o motivo pelo qual está aprendendo determinado tema.

Além disso, o trabalho com os temas transversais, ‘ética’, ‘meio ambiente’, ‘saúde’, ‘orientação sexual’, ‘pluralidade cultural’ e ‘trabalho e consumo’, deve correr paralelamente à aplicação das disciplinas ditas tradicionais.

Juntos, eles têm a função de formar cidadãos dotados de senso crítico e mais preparados intelectual e emocionalmente. Com isso, certamente teremos menos problemas relacionados à violência, à agressividade, à corrupção e às drogas, para citar apenas algumas das mazelas que atingem a sociedade nos dias de hoje.

A missão do educador é edificar em seus aprendizes os princípios morais, que, infelizmente, têm sido relegados e esquecidos. Dignidade, fraternidade, amor ao próximo, honestidade e toda uma série de outros valores nobres responsáveis pela harmonia da vida em sociedade. Por isso, nosso objetivo maior é capacitar os professores de modo que possam preparar seus alunos não apenas
para o vestibular, mas para uma vida cada vez mais repleta de desafios. Estamos vivendo um momento singular. O século XXI representa a Era da Informação e do Conhecimento. Conduzir as novas gerações rumo a essa magnífica aventura é uma tarefa difícil, mas não impossível.

Não podemos nos deixar guiar pelo comodismo de um sistema de ensino arcaico, fundamentado na imposição autoritária de conceitos e de regras obsoletas que, durante anos, impediram a criação de uma escola mais democrática e verdadeira. Não podemos nos considerar mestres se agimos com preguiça e irresponsabilidade. Parafraseando William Shakespeare: ‘A nossa vida é o mesmo que uma comédia: o que importa não é ser longa, é se foi bem representada’. Então, tenhamos em mente
que educar é abrir caminhos, ultrapassar fronteiras, desbravar trilhas rumo aos novos horizontes.

Educar é uma via de mão dupla: tanto ensinamos quanto aprendemos. Tanto doamos quanto recebemos. Essa é a magia essencial que concede ao homem a sabedoria e a capacidade de superar-se a cada amanhã.

Gabriel Chalita
Gabriel Chalita é secretário da Educação do Estado de São Paulo