Muda a economia paulista

Jornal da Tarde - 2/5/2002

qui, 02/05/2002 - 10h52 | Do Portal do Governo

Os dados da pesquisa da Fundação Seade sobre os investimentos em São Paulo em 2000 trazem três boas surpresas: (1) pela primeira vez, desde que se passou a fazer esse tipo de análise, em 1999, o capital nacional investiu mais do que o capital estrangeiro no Estado; (2) o setor de serviços superou a atividade industrial; e (3) consolidou-se a tendência de divisão de atividades entre a região metropolitana (serviços) e o interior (indústria).

No conjunto, tais elementos mostram a pujança da economia paulista e sua modernização. Outro dado altamente positivo é o fato de não ter havido retração de monta nos investimentos globais: em 2001 foram aplicados aqui US$ 23,4 bilhões, apenas 0,09% a menos que os US$ 23,5 bilhões investidos em 2000, o que significa que, apesar de toda a guerra fiscal que os Estados brasileiros vêm praticando e da qual São Paulo se recusa a participar, a economia paulista continua como a mais atraente e a principal força propulsora da economia nacional.

A troca do capital nacional pelo capital estrangeiro como maior financiador dos investimentos no Estado reflete, em parte, a situação enfrentada pela economia brasileira como um todo e a própria retração da economia mundial, principalmente depois dos atentados de 11 de setembro.

Mesmo assim, a ausência do dinheiro externo foi compensada pelos recursos internos das empresas e dos organismos nacionais de crédito. Para os analistas, essa mudança tem pelo menos uma vantagem: o Estado e o País gastarão menos com a remessa de lucros e o pagamento de royalties e outras obrigações ao exterior, gerando mais sobras para reinvestimentos. Uma economia sustentada por poupança nacional é mais saudável e menos vulnerável a choques externos, o que não quer dizer que o aumento do capital externo não seja bem-vindo.

A opção pelos investimentos em serviços (53,7% do total) em lugar de aplicações na indústria (43,4%), registrada também pela primeira vez desde 1999, segue a tendência natural das economias mais evoluídas, nos países ricos, nos quais é cada vez maior o peso dessas atividades – sistema financeiro, comércio, telecomunicações, informática – na formação do produto nacional, enquanto decresce a participação das atividades fabris e manufatureiras.

Nesse mesmo contexto, confirma-se a vocação das regiões metropolitanas e dos grandes aglomerados urbanos como áreas próprias das atividades de serviços e a interiorização da produção industrial.

Em São Paulo esse processo já vem ocorrendo há algum tempo, tendo em parte sido provocado pelo custo elevado da mão-de-obra na Grande São Paulo e pelo peso das atividades sindicais nas cidades industriais, que, em sua fase mais aguda, trouxe sérios prejuízos para as indústrias instaladas na região.

O melhor exemplo disso foi o esvaziamento da indústria e a queda na oferta de empregos no ABC, que só agora começa a recuperar sua força com o redirecionamento de sua economia para o setor terciário.