O Estado de S.Paulo
Além de autor do mais influente estudo sobre a formação cultural do País, Casa Grande & Senzala, o pernambucano Gilberto Freyre (1900-1987) foi poeta, político, pintor e desenhista. Esse lado menos conhecido do sociólogo está na a exposição Gilberto Freyre – Intérprete do Brasil, aberta a partir de hoje no Museu da Língua Portuguesa. Morto há 20 anos, Freyre tem sua obra reeditada e colocada à disposição de novos pesquisadores, que vão encontrar na mostra documentos utilizados por ele para escrever clássicos como Ordem e Progresso, primeiras edições de todos os seus livros (são mais de 80), cartas trocadas com colegas como Florestan Fernandes e 27 telas inéditas pintadas por Freyre, que retratam seu universo familiar em Pernambuco – engenhos, cenas da vida religiosa e lugares onde cresceu e viveu.
A Fundação Gilberto Freyre, do Recife, emprestou todo o material exibido na mostra, que tem como curadores Júlia Peregrino, o pesquisador Pedro Karp Vasquez e a cientista social Élide Rugai Bastos. Vários consultores, entre eles o antropólogo Gilberto Velho, colaboram na seleção de frases que guiam o visitante pela exposição, introduzindo-o no universo de Freyre. A cenografia de André Cortez atendeu ao propósito didático dos curadores – ””não o de esgotar o assunto, mas instigar o aparecimento de novos leitores””, esclarece a curadora Júlia Peregrino.
Dividida em núcleos temáticos, a exposição tenta recriar um ambiente familiar, dando ao visitante a impressão de ingressar na própria casa de Freyre. No primeiro núcleo, dedicado à formação da sociedade brasileira, ele vai encontrar documentos usados pelo sociólogo nas pesquisas de seus livros Casa Grande & Senzala, Sobrados e Mucambos e Ordem e Progresso. O Freyre preservacionista está presente em outro núcleo, que revela suas preocupações não só com a ecologia como com os hábitos alimentares do brasileiro. ””As receitas secretas, familiares, reunidas no clássico Açúcar, recolhidas em engenhos, são algumas das peças raras da mostra, ao lado de documentos que comprovam seu pioneirismo na preservação da flora brasileira e de nosso patrimônio artístico e arquitetônico””, diz o curador Pedro Karp Vasquez.
Serviço Gilberto Freyre – Intérprete do Brasil. Museu da Língua Portuguesa. Pça. da Luz, s/n.º, tel. 3326-0775. 3.ª a dom., das 10 h às 17 h. R$ 4. Até 4/5/2008. Inauguração oficial hoje, às 19 h. Amanhã, abertura ao público
