Morte e casarões são temas de roteiros por SP Livro

Folha de S.Paulo - Domingo, 9 de março de 2008

dom, 09/03/2008 - 13h08 | Do Portal do Governo

Folha de S.Paulo

Ver os relógios em prédios na avenida São João, visitar pontos onde eram enterrados os moradores na cidade antes da criação de cemitérios públicos e circular pelas galerias do centro são algumas das opções trazidas pelo livro “Dez Roteiros Históricos a Pé em São Paulo”, que acaba de ser lançado.

A proposta é que as pessoas abram mão de carros ou do transporte público para conhecer pontos históricos da capital paulista em passeios que levam, em média, duas horas.

Fazem parte ainda da obra percursos nas regiões do centro, Ipiranga, Liberdade, Mooca, Jardim América e Bom Retiro, além de lugares entre o rio Pinheiros e a Guarapiranga.

Para o editor Roney Cytrynowicz, a idéia do livro é romper a “barreira psicológica” de passear a pé em São Paulo.

O ex-tenista Fernando Meligeni, o Fininho, aceitou a pedido da Folha testar alguns roteiros. Na área onde mora, perto da av. Sumaré, ele costuma ir à padaria, a restaurantes e à locadora a pé. Ele escolheu percorrer trechos dos percursos relacionados ao tema morte no centro e o da av. São João.

Na tarde de sexta, Meligeni viu o fêmur de José de Anchieta na igreja do Pátio do Colégio, região em que foram enterradas diversas pessoas, entre as quais o chefe indígena Tibiriçá. Conheceu ainda a igreja Santa Cruz dos Enforcados, na Liberdade, na área onde ficava a forca da cidade. É ali que os “enforcados”, no sentido figurado, hoje acendem velas.

“Eu viajei muito para o exterior e acho que o centro é a melhor maneira de conhecer uma cidade e as pessoas. Em São Paulo não é diferente: é possível ver gente de todo tipo aqui”, diz Meligeni, ao caminhar entre um ponto histórico e outro.

Na catedral da Sé, Meligeni foi alvo de um grupo de estudantes de fotografia. Na av. São João, era constantemente abordado por quem passava.

O artista de rua Wagner Portnoy, que cobra R$ 10 para desenhar rostos, foi um deles. Ambos conversaram perto dos Correios. “O centro tem edifícios antigos, e não aqueles cheios de espelhos de que os ricos gostam”, diz o artista.

Curiosamente, a av. São João, escolhida pelo ex-tenista, nascido na Argentina e naturalizado brasileiro, para o passeio, é descrita no roteiro como “a nossa rua de metrópole, com cara e jeito de Buenos Aires”.

O empresário Samuel Duek -irmão do estilista Tufi Duek- concordou em passear com a reportagem pelo Jardim América. Ele mora nos Jardins e costuma visitar os irmãos no bairro de grandes mansões. “Hoje em dia dá para andar a pé dentro da “bolha’: Jardins, Higienópolis, Oscar Freire.”

Nesse roteiro, as dicas mostram principalmente as casas da área, sua arquitetura e período de construção. Uma das mais bonitas é uma residência amarela e branca, neocolonial, inspirada na arquitetura das igrejas barrocas brasileiras. Mas é possível ver casas futuristas, com arquitetura clássica e outras com estilo normando -que, para o empresário, lembra Campos do Jordão (181 km de São Paulo).

No caminho sossegado é possível ouvir sons como o sino da igreja Nossa Senhora do Brasil. Mas há um inconveniente: muitos seguranças ficam encarando os pedestres -a reportagem chegou a ser seguida por um vigia numa moto. “Por isso, eu gosto de andar com meus cachorros. Assim, ninguém acha que você está olhando e dá para passear mais tranqüilamente”, afirma Duek.

LIVRO – “Dez Roteiros Históricos a Pé em São Paulo” Roney Cytrynowicz (org.); ed. Narrativa Um; 238 págs.