Modernistas causam excitação na Estação Pinacoteca, em São Paulo

Folha de S. Paulo - São Paulo - Terça-feira, 31 de agosto de 2004

ter, 31/08/2004 - 9h13 | Do Portal do Governo

Mostra traz 50 obras de 12 artistas brasileiros

Fábio Cypriano, da Reportagem Local

É usual um clima de euforia antes da abertura de qualquer exposição, mas há uma empolgação além da usual, para ‘Mestres do Modernismo’, que é inaugurada, hoje, para convidados, na Estação Pinacoteca.

Há três motivos para tal animação: a mostra concretiza o comodato, por cinco anos renováveis, de 200 obras do acervo da Fundação José e Paulina Nemirovsky, que reúne algumas das mais expressivas obras do modernismo brasileiro, como ‘Antropofagia’ (1929), de Tarsila do Amaral, e que também foi disputado pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM).

Em segundo lugar, ‘Mestres do Modernismo’ retrata a primeira fase do modernismo brasileiro, dos anos 20 e 30, numa exposição de longa duração (vai ficar um ano em cartaz), dando acesso a um conjunto didático, que nenhum museu brasileiro tem capacidade de apresentar, o que reafirma a Pinacoteca como principal instituição museológica do país.

Finalmente, com a exposição, os quatro andares da nova filial da Pinacoteca são ocupados praticamente por inteiro, faltando apenas o gabinete de gravura, que será aberto no próximo dia 8. A exposição ganha ainda em significado na simultaneidade com ‘Encontros com o Modernismo’, do acervo do Museu Stedelijk, da Holanda.

‘Apresentamos aqui um panorama único, que demonstra a diversidade da produção dos modernistas brasileiros, com obras de grande qualidade, reunidas principalmente a partir da coleção Nemirovsky, mas também com obras do acervo do Estado’, afirma Marcelo Araújo, diretor da Pinacoteca.

O melhor exemplo é Tarsila do Amaral (1886-1973). A artista comparece com cinco obras, de todas as fases pelas quais passou. Entre as mais significativas estão: ‘Antropofagia’, realizada em sintonia com o ‘Manifesto Antropófago’, publicado em 1928, de Oswald de Andrade, é a obra mais valiosa da exposição e representa a fase antropofágica da artista; ‘Carnaval em Madureira’ (1924), da fase pau-brasil, que tratou de questões da identidade do país, e também pertence à coleção Nemirovsky; e ‘Operários’ (1933), da fase social, do acervo do Governo do Estado.

A excelência da mostra tem por base a coleção criada pelo médico José Nemirovsky (1914-1987), artista, que, nos anos 60, comprou parte de suas obras, quando os preços de modernistas eram ainda acessíveis. Estima-se, por exemplo, em mais de US$ 1,5 milhão o valor de ‘Antropofagia’, hoje.

‘Tudo que o dr. Nemirovsky comprou é importante. Não se trata de uma coleção de quantidade, mas de qualidade. Por isso, a mostra não tem um efeito fugaz, ela é o sonho de todos que gostamos da arte brasileira’, conta Maria Alice Milliet, curadora da exposição e da Fundação Nemirovsky.

A mostra apresenta, em média, três obras de cada um dos 12 artistas selecionados. Estão lá trabalhos de Anita Malfatti, Victor Brecheret e Lasar Segall, além de ‘artistas que não se enquadram no modernismo nacionalista da primeira fase’, segundo Araújo, como Ismael Nery, Flávio de Carvalho e Vicente do Rego Monteiro.

A orientação didática é outra marca: há uma linha do tempo com os principais fatos dos anos 20 e 30, vídeos com documentários de época, e maquetes de edifícios projetados por Gregori Warchavchik e Flávio de Carvalho.

Casa Guilherme de Almeida

Das 50 obras apresentadas na Pinacoteca, quatro pertencem ao acervo da Casa Guilherme de Almeida, um museu público pouco conhecido, que serviu de residência ao poeta, jornalista e estimulador da arte moderna, que dá nome à instituição.

Localizada no bairro do Pacaembu (r. Macapá, 187, tel. 0/xx/ 11/3673-1883), a casa espelha o espírito das contradições entre modernistas brasileiros do início do século 20: móveis dos séculos 18 e 19 convivem com as paredes forradas de obras de Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Lasar Segall, e outros amigos de Guilherme de Almeida (1890-1969), um dos organizadores da Semana de Arte Moderna, em 1922.

A visitação é gratuita, mas precisa ser agendada por telefone, pois a casa tem capacidade de receber apenas cinco visitantes por vez, já que é mantida exatamente na forma que o ‘príncipe dos poetas brasileiros’ (título ganho em 1959) mantinha, entre 1946 e 1969.

MESTRES DO MODERNISMO. Mostra com 50 obras de 12 artistas da primeira fase do modernismo brasileiro, a partir da coleção da Fundação Nemirovsky e acervos do Estado. Curadoria: Maria Alice Milliet. Quando: abertura hoje, 19h30 (para convidados); de ter. a dom., das 10h às 18h. Até 3/10. Onde: Estação Pinacoteca (largo General Osório, 66, Luz, SP, tel. 0/xx/11/222-8968). Quanto: R$ 4 (sáb, gratuito). Patrocínio: Telefonica.