Modelo educacional japonês agrada aos brasileiros

Jornal da Tarde - Quarta-feira, dia 23 de agosto de 2006

qua, 23/08/2006 - 10h16 | Do Portal do Governo

MARIA REHDER, maria.rehder@grupoestado.com.br

Não é novidade que a disciplina é a peça-chave para o bom desempenho dos alunos de países asiáticos nos exames internacionais de avaliação de ensino. Entretanto, em entrevista ao JT, Masami Tajime, presidente da associação de professores da província japonesa de Hyogo, ressalta que, além de aspectos culturais, há fatores da política educacional de seu país que são fundamentais para a garantia de aprendizagem das crianças.

Tajime – que veio ao Brasil comandando uma delegação japonesa composta por 45 professores – afirma que, mesmo com facilidade para garantir a disciplina de seus alunos, os educadores japoneses contam com a presença de assistentes em aula. “Entendemos que um professor sozinho não consegue oferecer ensino de qualidade para mais de 30 alunos em classe”, diz.

A valorização do professor também é apontada por Tajime como uma prioridade do governo japonês. “Além da remuneração justa e investimentos na profissionalização, o professor é o único profissional japonês a quem o imperador faz reverência em público”, comenta. No entanto, Tajime diz admirar a flexibilidade de convivência multicultural dos educadores brasileiros. “Nossos professores têm dificuldades para lidar com a diversidade, são fechados. Eles tem muito a aprender com os brasileiros.”

Educação no Brasil

Para Maria Lúcia Vasconcelos, secretária de Educação do Estado de São Paulo, a redução do número de alunos por classe não é a solução para a melhora da qualidade da educação no País. “A valorização do professor é que faz a diferença. No Japão, esta é garantida por meio da educação familiar, pois desde pequenos os japoneses aprendem a respeitar seu educador, a ter disciplina.”

Cursos de capacitação que dão ênfase na melhora da auto-estima, segundo Maria Lúcia, são os caminhos escolhidos pelo Estado para a valorização do professores. “Oferecemos vários cursos de capacitação, e em todos eles trabalhamos a questão da valorização do papel do professor e o desenvolvimento do perfil de liderança”, afirma.

Já a gestora do Céu Butantã, Elizabeth Gaspar Tunala, que teve a oportunidade de trocar experiências com a delegação japonesa, destaca que o trabalho do professor não pode mais ser visto como um sacerdócio. “Hoje, o bom e o mau professor ganham os mesmos salários, não há uma valorização por meio de avaliação de desempenho.”

Elizabeth explica que mesmo inserido em uma realidade socioeconômica diferente do Japão, o Brasil poderia adotar algumas características do sistema educacional japonês. “Os professores japoneses têm de passar por uma avaliação de conhecimentos gerais para poder dar aulas no Ensino Fundamental. No entanto, após um ano de trabalho, são submetidos novamente a uma avaliação para ver se se adaptaram em aula. Já no Brasil, ao passar no concurso, o professor não é submetido a um acompanhamento de desempenho”, diz.

Sivart Santos, professora da rede municipal de ensino, destaca o empenho dos japoneses para a conquista da qualidade de ensino. “Eles vieram até o Brasil para trocar experiências. Há muitos aspectos da política educacional japonesa que, se adotados no Brasil, melhorariam a educação no País.”