Migração de estrangeiro e do interior cresce

Folha de S. Paulo – domingo, 28 de setembro de 2008

dom, 28/09/2008 - 14h42 | Do Portal do Governo

Folha de S. Paulo

Pela primeira vez nas últimas décadas, os nordestinos deixaram de representar mais da metade dos forasteiros recém-chegados a São Paulo ou a alguma das 28 cidades do entorno para fixar residência.

Entre os períodos de 1988/ 1989 e 2006/2007, o número de migrantes provenientes da região Nordeste caiu de 59,4% para 49,1%.

Como resultado, ficou mais forte a presença relativa dos migrantes oriundos do interior do Estado e de outros países.

Esse novo perfil dos migrantes que se mudam para a Grande São Paulo é uma das conclusões de um estudo feito por Valmir Aranha e Paulo Jannuzzi, pesquisadores da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados).

“São Paulo não é mais tão atraente para os nordestinos. E, dos que vêm, muitos ficam pouco tempo aqui e voltam logo em seguida para seus locais de origem”, diz Valmir Aranha.

O estudo será apresentado nesta semana em Caxambu (MG), no 16º Encontro Nacional de Estudos Populacionais.

Em 1988/1989, dos migrantes que haviam fixado residência na Grande São Paulo até três anos antes, perto de 536 mil eram nordestinos. Em 2006/2007, o Nordeste enviou pouco mais de 317 mil pessoas.

O menor fluxo de nordestinos influencia todo o cálculo migratório em São Paulo. Entre os dois períodos estudados pelo Seade, o peso dos migrantes de todas as procedências na população total da região metropolitana caiu de 47,3% para 40,1%. Ou seja, a população “nativa” subiu de 52,7% para 59,9%.

Atração histórica

O fluxo de migrantes de outros Estados para São Paulo teve seu primeiro período de intensidade no início do século passado. Na década de 30, o governo criou uma política para atrair pessoas de fora do Estado para que houvesse mão-de-obra para as lavouras.

Nos anos 50 e 60, com a industrialização do Brasil e o estabelecimento de São Paulo como pólo nacional nesse setor, a atração de migrantes ganhou mais força, dessa vez para a zona urbana. Os anos 70 foram o auge desse processo, com o chamado milagre econômico.

Somavam-se a isso a pobreza e as secas do Nordeste, que empurravam as pessoas para fora dessa região.

A situação começou a mudar nos anos 80, que ficaram conhecidos como a década perdida. “O Brasil entrou em recessão depois da crise mundial do petróleo. Quem mais sofreu foi o centro industrial do país. Como conseqüência, os nordestinos perderam o encanto, deixaram de ver São Paulo como Meca”, afirma Herton Ellery Araújo, técnico em pesquisa e planejamento do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

Postos de trabalho foram fechados, os empregos novos exigiam uma qualificação que os nordestinos não tinham e as linhas de montagem das fábricas adotaram tecnologias que dispensaram funcionários.

“Foi quando começaram as migrações de retorno”, diz Parry Scott, antropólogo da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco). “Eram retornos desgastados, com uma certa desilusão.”

Por outro lado, a situação no Nordeste melhorou. A Constituição de 88 criou a aposentadoria rural, o que permitiu que muita gente continuasse com suas vidas na roça. Os Estados nordestinos se industrializaram. O turismo se profissionalizou. E, mais recentemente, os programas de transferência de renda do governo federal levaram dinheiro às famílias das regiões mais pobres. Isso tudo foi motivo para que as pessoas continuassem lá.

Segundo os Censos do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a Grande São Paulo teve um saldo migratório positivo de 203 mil pessoas entre 1960 e 1970. Entre 1980 e 1991, pela primeira vez, o saldo foi negativo -mais pessoas saíram do que chegaram-, totalizando uma perda de 26 mil pessoas. Entre 1991 e 2000, o saldo migratório voltou a ser positivo, de 24 mil pessoas.

“São Paulo continuará atraindo gente -nordestinos em especial-, mas nunca mais com a força daquela época”, diz o demógrafo José Marcos Cunha, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

(M.S.)