Metrô apóia lazer na Zona Sul

Jornal da Tarde - Segunda-feira, 1º de março de 2004

seg, 01/03/2004 - 8h52 | Do Portal do Governo

RITA DE CÁSSIA LOIOLA

No palco montado durante a tarde de ontem ao lado da estação Capão Redondo, da linha Lilás do Metrô, Zona Sul, Silas Magalhães, de 11 anos, entoa seu rap: ‘Sou guerreirinho do Capão, firmeza, irmão/ Escola é fundamental para a salvação’. De óculos escuros, bermuda larga e pose de rapper profissional, ele é acompanhado por Charles Santos e Jaickson de Oliveira, de 11 e 10 anos respectivamente.

Desde as 11h, eles estavam esperando para cantar suas músicas no evento promovido pelo movimento ‘Não à Violência, eu quero lazer’ com o apoio da Companhia do Metropolitano de São Paulo. Durante todo o dia, a Rua Professor Doutor Telêmaco Hippolyto de Macedo Van Langendock esteve fechada para atividades de entretenimento infantil, apresentação de cerca de dez grupos de rap do Capão Redondo e grafitagem de parte do muro da estação, cedida pelo Metrô.

‘Tentamos atingir as crianças e os jovens daqui e passar a eles referências que perderam, como o valor da vida e da educação’, conta Paulo Magrão, de 38 anos, o idealizador da festa que, há cinco anos, reúne no último domingo do mês os jovens do bairro para ouvir música, ver filmes e brincar.

Às 20h, o filme Cidade de Deus foi projetado em uma placa de metal para o público ansioso para ver as imagens que estavam concorrendo ao Oscar. ‘Estou louca para ver o filme, mas dizem que o final é meio triste’, diz Jaislaine de Oliveira, de 9 anos, participante dos eventos desde quando aconteciam no Parque Santo Dias, no Capão.

Rua vira espaço de educação

‘Já chegamos a reunir até três mil pessoas no parque. Agora, resolvemos usar a rua e transformá-la em um espaço de lazer’, conta Paulo, que mora no Capão desde que nasceu. ‘Comecei com os eventos para conscientizar a molecada. Aqui, é muito fácil seguir o caminho errado’, diz.

A parceria com o Metrô surgiu para integrar comunidade aos trens, prevenindo o vandalismo. ‘É mais uma oportunidade de passar aos jovens conceitos de educação e cidadania’, explica Fernando Moreira, de 40 anos, um dos coordenadores do ‘Não à Violência.’

‘Tentamos trabalhar em sintonia com a comunidade. Isso sai mais barato que ficar consertando vagões danificados’, diz Aloísio Gibson, responsável pelo evento junto ao Metrô. A instituição cedeu a madeira para a construção do palco e as tintas para a preparação do muro para a grafitagem.

O ponto alto da festa são os grupos de rap, que se apresentam no fim da tarde, retratando a realidade do bairro com músicas de protesto. Cantores como Mano Brown, do Racionais MC’S e Cobra, do Conexão do Morro, sempre aparecem. Silas lembra com brilho nos olhos de quando o ídolo Brown o incentivou a cantar. ‘Quero ser como ele. O rap é minha cultura, meu lazer’, diz, pretendendo ser um grande letrista de rap.