Merenda ganha papel pedagógico

Jornal da Tarde - Quinta-feira, dia 14 de setembro de 2006

qui, 14/09/2006 - 10h54 | Do Portal do Governo

MAÍRA TEIXEIRA, maira.teixeira@grupoestado.com.br

Diz o velho ditado ‘a gente é o que come’. Em tempos de fast-food, os professores têm um novo e difícil papel: ajudar a melhorar a qualidade da alimentação dos seus alunos. Pesquisas recentes revelam que é preciso olhar com atenção para esse problema a fim de reverter uma questão de saúde pública mundial: a epidemia de obesidade e desnutrição que vem ocorrendo, sem distinção, em países pobres e ricos.

De acordo com Cláudia Cezar, coordenadora do Núcleo de Estudos sobre Obesidade e Exercícios Físicos (Neobe) da USP, os adultos e a sociedade de maneira geral precisam ir a fundo no problema da alimentação. ‘As pessoas precisam se informar e fazer com que alimentação seja alvo de preocupação e atuação. As crianças não se alimentam bem porque os pais fazem tudo de maneira corrida, sem se preocupar como deveriam com essa questão. É aí que entram o professor e a escola: na reflexão com o aluno, que, por sua vez, vai questionar o pai, que então dará mais atenção ao problema’, explica.

Embora acredite na força da educação para modificar o atual quadro, Cláudia destaca que, apesar de a escola poder ajudar na formação dos hábitos alimentares saudáveis, não pode ser responsabilizada por tudo. ‘Os professores têm de chamar os pais, apresentar o problema e um possível projeto de mudança. A escola, hoje, tem de ajudar o aluno a comer melhor, ensinando princípios da nutrição. Mas a escola não pode ser a única responsável. Os pais têm o dever de participar’, afirma.

A tese de doutorado de Cláudia, aprovada no ano passado pelos acadêmicos da USP, revela dados preocupantes em relação aos danos que o comportamento alimentar vem causando nos alunos da rede municipal da Capital. Ela constatou que 25% dos estudantes de 11 a 18 anos estão mal nutridos – 11% com algum grau de desnutrição e 14% com níveis diversos de obesidade, com pequena variação entre os sexos. Para o levantamento, a pesquisadora capacitou professores de educação física de 85 escolas distribuídas pelas regiões da Capital.

Mudar é necessário

De acordo com Cláudia, o objetivo do levantamento é chamar a atenção para a necessidade de mudança na qualidade alimentar. São Paulo, Santos e Cubatão, por exemplo, têm propostas de lei para regulamentar a merenda escolar .

Segundo a chefe do Departamento de Merenda Escolar da Capital, Erika Alves Oliveira, as cerca de 1,5 milhão de merendas distribuídas por dia fazem parte de um cardápio elaborado por nutricionistas que prioriza a colocação de alimentos frescos e balanceados na dieta.