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Diário de S. Paulo

sex, 11/06/2010 - 8h35 | Do Portal do Governo

Recentemente me surpreendi em um restaurante com cenas em mesas próximas à minha. Em uma delas, havia um casal e um filho. Na outra, cinco pessoas, com crianças entre elas. Sentando à mesa, a primeira coisa que as crianças fizeram foi colocar um videogame no lugar do prato. A partir daí, não houve nenhuma interação entre pais e filhos. Estavam completamente isolados, cada um em seu mundo virtual.

Nos dois casos a situação era semelhante, diferenciando-se apenas pelo detalhe de que um dos casais era mais comunicativo e conversava entre si, enquanto que na outra mesa o silêncio era permanente.

O fato das crianças estarem totalmente entretidas com um jogo eletrônico e não participarem do encontro de família já me parece preocupante. A mesa é um lugar onde se pode conversar, se aproximar, perceber detalhes e nuances de comportamento. A mesa é, acima de tudo, um momento de convivência.

Depois desta ocasião, naturalmente, passei a notar a ocorrência de outras similares. Assustei-me ao constatar que a cena é muito mais comum que imaginava! Parece que caminhamos para uma situação em que alguns tipos de brincadeiras artificiais prolongadas são muito mais interessantes do que a relação afetiva, criando uma espécie de “alienação induzida” em nossas crianças e jovens.

Pior é constatar que os pais não se incomodam nem um pouco com esta situação. Nos casos que presenciei, eles inclusive apoiavam o comportamento, sem exigir nada das crianças, sem dirigir-lhes a palavra ou estabelecer qualquer contato. Com filhos saudáveis, perdiam a oportunidade de cultivá-los.

Provavelmente para estas pessoas deve ser mais fácil deixar os filhos com o videogame do que conversar. Agora eles não prestam atenção num filho jogando à mesa. Amanhã eles poderão não enxergar os filhos bebendo. Mais tarde, os jovens poderão usar drogas, e, aí sim, os pais serão obrigados a dar atenção à tragédia. Mas poderá ser tarde demais.

PS: Quando disse que não houve interação, devo-me corrigir: quando, em um dos casos, acaba a bateria do videogame do filho e ele reclama, o pai, sem lhe dirigir uma palavra, lhe passa o celular para que o menino continue brincando …

Andrea Matarazzo é secretário da Cultura